O químico da Unicamp Wilson de Figueiredo Jardim não acredita em sustentabilidade. Ele também não vê com bons olhos a definição de combustíveis limpos para etanol e demais biocombustíveis. O etanol de cana-de-açúcar pode até ser uma opção energética eficiente e de menor impacto, mas nem por isso podemos levar nosso cachorro para passear de carro e achar que somos benevolentes com o planeta.
“Sustentabilidade na verdade é um mito. Para viver o homem moderno precisa degradar”, declara Jardim em sua conferência na SBPC. O motivo gerador da crença de que os biocombustíveis são sustentáveis, segundo Jardim, é o fato de que apenas o produto é apresentado ao consumidor final. “Não estamos acostumados a enxergar os impactos que os processos anteriores ao produto causam ao meio ambiente.”
Esses processos são os mais variados possíveis. Temos em primeiro lugar o alto dispêndio de água necessário para gerar etanol. Jardim afirma que 500 litros de água são gastos para gerar um litro de etanol. “Esse combustível é limpo de tanto que lavam ele”.
Outro impacto é o gerado pelo transporte do etanol que é feito por veículos que queimam óleo diesel. Os ônibus que levam os trabalhadores rurais aos canaviais também são movidos por esse combustível fóssil altamente poluente. “Como é possível ter um combustível sustentável se ele é transportado queimando diesel?”, questiona Jardim.
Problemas como o trabalho degradante no corte de cana, como a erosão de solo e a substituição de culturas alimentares pela produção dos biocombustíveis também precisam ser levados em consideração por quem for analisar impactos ambientais. Jardim salienta que “os gases de efeito-estufa liberados na atmosfera pelos automóveis são apenas a etapa final de impacto”.
É claro que, mediante outras formas de combustíveis fósseis, o etanol se destaca. Além disso, o Brasil é um país estratégico e líder no que diz respeito à produção desse biocombustível. “Todos os indicadores técnicos da produção de etanol brasileira são positivos. Aprendemos a plantar e colher mais cana por hectare, melhoramos o tempo de fermentação, aumentamos o teor de sacarose. Mas certos fatores ainda não acompanharam esse crescimento”.
O que o professor Jardim sugere é o que já foi muito comentado nesses cinco dias de SBPC. Para ele, precisamos mudar a lógica econômica de consumo. “Para se consumir menos petróleo, carros mais econômicos são fabricados. Carros mais econômicos se tornam mais atrativos ao mercado de consumo e, por isso, vendem mais. A forte venda desses carros faz com que mais petróleo seja gasto”. No fim a conta não fecha.
Ainda sobre vendas de automóveis, Jardim conta que nos EUA a vedete atual são os carros compactos e econômicos. “O problema é que, se antes cada família tinha dois carros na garagem, agora são três.” O consumo de combustível que era para diminuir, só aumenta a cada dia.
Mas a mensagem final do químico da Unicamp é de esperança. “Acredito que chegará o dia em que meus filhos dirão que gostariam de fazer algo, mas que não o farão porque o planeta não conseguiria arcar com os impactos daquele ato”.
(Por Luiz Paulo Juttel, Jornal da Unicamp, 21/07/2008)