A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária) foi criada em 1973 e está vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atuando em quase todos os Estados brasileiros através de 38 unidades de pesquisa. Sua missão, voltada para viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço rural, está também direcionada à criação de novas tecnologias envolvendo a produção de biocombustíveis - etanol e biodiesel. “Nós precisamos continuar fazendo ciência de excelência e comprometida com os grandes desafios que temos hoje no país”, afirmou Sílvio Crestana, diretor-presidente da Embrapa, na conferência “O Brasil do Futuro e o Papel de uma Política Sustentável de Produção de Biocombustíveis”, que aconteceu na manhã da última sexta-feira (18/07).
Crestana chamou a atenção para o fato de, no Brasil, terem diminuído consideravelmente os investimentos em C&T na agricultura. “É como se investir em agricultura tivesse perdido a importância”, lembrando a relevância socioeconômica que tem o agronegócio brasileiro, que é a principal fonte de divisas internacionais, representando 26% do PIB, em 2007, e sendo responsável por 37% dos empregos existentes no país.
No contexto nacional, o novo desafio da agricultura é aliar a produção de alimentos à produção de energia e fibras. “Precisamos viabilizar sistemas de produção integrados e sustentáveis, e que sejam viáveis dos pontos de vista econômico, social e ambiental, promovendo a inserção do Brasil no cenário mundial de forma soberana”, destacou o diretor-presidente da Embrapa. Ele elencou uma série de benefícios no investimento em biocombustíveis, partindo da constatação de que o Brasil é líder mundial no uso de energia de fonte renovável, totalizando 46,4% de toda energia consumida.
Além dos aspectos econômicos positivos - como curto ciclo de produção, preços inferiores aos do barril de petróleo, fortes impactos na balança comercial -, a produção de biocombustíveis gera ganhos ambientais - como a diminuição das emissões de dióxido de carbono e maior seqüestro de carbono - e sociais relacionados à geração de novos empregos e melhor distribuição de renda.
O conferencista destacou ainda o investimento da Embrapa em biotecnologia e biossegurança, citando pesquisas sobre a expressão de gene tolerante à seca na soja, que está em fase de experimentação com resultados até agora animadores.
Questionado por uma estudante de mestrado da Universidade Federal de São Carlos a respeito das condições deploráveis de trabalho nos canaviais, Crestana disse que, na expansão dos biocombustíveis, a dimensão econômica não pode suplantar a social. Ele lamentou que a exploração no campo seja uma realidade nacional, e sugeriu que sejam criados um selo socioambiental e marcos regulatórios que garantam a qualidade nos processos de produção do etanol.
Com relação à expansão da produção de biocombustíveis, Crestana informou que ainda existem 90 milhões de hectares agricultáveis no Brasil, nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão e São Paulo. Ele contou que a Embrapa busca incrementar a área de PD&I, com parceiros estratégicos em universidades e institutos de pesquisa em todo o país. Um desafio apontado por Crestana é a gestão das pesquisas em lugares onde não há tradição de pesquisa científica e corpo técnico especializado, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Segundo Crestana, a Embrapa não está limitada ao território nacional. Parcerias internacionais têm garantido a presença dessa instituição em outros países, além da implantação de escritórios na Venezuela, Gana, nos Estados Unidos e na Europa.
(Por Sara Nanni, Jornal da Unicamp, 21/07/2008)