O Caribe é um dos destinos turísticos mais procurados por seus mares de águas cristalinas e seus recifes de corais cercados de peixes. A Terra, porém, pagou um preço caro para ter essa paisagem: há 93 milhões de anos, as erupções de vulcões submarinos que formaram as ilhas caribenhas causaram uma extinção em massa de vida.
Essa é a conclusão de um estudo dos geólogos Steven Turgeon e Robert Creaser, da Universidade de Alberta (Canadá), publicado na revista "Nature". Analisando a composição de rochas que se formaram naquela época, os cientistas descobriram que elas estavam cheias de um tipo especial de ósmio, metal expelido pelas erupções e espalhado pelos mares.
Cientistas já sabiam sobre a extinção em massa, mas ainda não tinham conseguido algo que apontasse sua correlação com os vulcões submarinos. O evento de extinção que eles descrevem foi o segundo entre os grandes do Cretáceo --período que se estendeu de 145 milhões de anos atrás a 65 milhões de anos atrás. Uma infinidade de seres vivos que dominavam o leito marinho na época desapareceu, de organismos unicelulares chamados foraminíferos até grandes moluscos.
A proporção de elementos químicos em diferentes camadas de rocha, tudo indica, era a pista que faltava. Os dois descobriram, a partir de escavações feitas na Itália e na América do Sul, que as formações geológicas datadas da época da formação do Caribe estavam com uma proporção maior do tipo de ósmio expelido por vulcões. Não foi o metal, porém, que matou os animais, uma vez que a proporção de ósmio na composição do oceano é pequena. Para os biólogos, ele serve apenas como um marcador.
Um dos culpados pela megaextinção do Cretáceo foi um fenômeno que conhecemos bem: o aquecimento global. Vulcões submarinos expelem um bocado de gases do efeito estufa, que acabam vazando para a atmosfera. Não são como os vulcões terrestres, que na verdade esfriam a Terra ao pulverizarem o ar de poeira que bloqueia o Sol, porque embaixo d'água a poeira é dissolvida. Com a atmosfera superaquecida, então, as camadas mais superficiais do oceano se esquentaram também. Por um efeito de choque térmico, as correntes que levavam oxigênio ao fundo cessaram.
Mas há uma segunda hipótese para o que aconteceu. Os vulcões submarinos do Caribe também expeliram um bocado de nutrientes metálicos que serviam de alimento para o plâncton (pequenos organismos marinhos) na superfície. Essa superpopulação de plâncton, quando morria, se decompunha e roubava oxigênio da água à medida que afundava. Resultado, sobrava pouco oxigênio para os animais do fundo.
Que hipótese é correta, então? "Provavelmente é uma combinação das duas coisas", disse Turgeon à Folha. "Temos bastante certeza de que a circulação oceânica estava lenta na época e que os oceanos estavam estratificados [divididos em camada fria e quente]. Mas também parece que o magmatismo liberou grandes quantidades de nutrientes."
Legado petrolífero
Hoje, claro, ninguém chora pelos moluscos e protistas que se extinguiram há 93 milhões de anos. A megaextinção, aliás, deixou um legado muito apreciado pelos humanos: reservas de petróleo formadas a partir dos animais mortos que se depositaram no leito oceânico.
O Cretáceo foi uma época diferente daquela que vivemos hoje, dizem os cientistas, mas é justamente a diferença que pode arejar idéias novas. "Esse trabalho pode fornecer lições valiosas sobre como a Terra reage a perturbações como essas que está experimentando agora", diz o geólogo Timothy Bralower, da Universidade do Estado da Pensilvânia, em comentário ao estudo publicado na "Nature".
(Por RAFAEL GARCIA, Folha de S.Paulo, 21/07/2008)