As recepções dos cinzentos prédios da Escola Politécnica (Poli) da USP ganharam, desde o começo de junho, um discreto colorido alaranjado: foram instaladas as primeiras lixeiras exclusivas para a coleta de pilhas e baterias usadas. Elas são parte integrante de mais uma etapa do Poli USP Recicla, programa vinculado ao USP Recicla. A etapa já começa a mostrar resultados. Entre 4 de junho e 4 de julho, as nove lixeiras recém-colocadas já receberam cerca de 120 quilos desse tipo de material. “Foram quase 30 quilos por semana, um número mais elevado do que esperávamos”, diz Wélson Barbosa Jr., um dos gestores do Poli Recicla.
O começo do projeto de recolhimento de pilhas usadas é a segunda etapa de um cronograma montado a partir de 2006, norteado por um estudo que mapeou a situação geral dos resíduos produzidos pela Escola Politécnica. O levantamento indicou, entre outras coisas, que a Poli não tinha nenhum tipo de política para gerir os resíduos considerados mais perigosos, como explica Patrícia Caixeta da Fonseca, também gestora do programa. “Montamos então um planejamento dividido em três etapas. A primeira, já iniciada, envolveu a coleta de lâmpadas fluorescentes, a segunda começamos agora, com o recebimento de pilhas e baterias, e a terceira envolverá, num futuro próximo, o inventário de todos os resíduos perigosos gerados nos laboratórios da escola”, diz ela.
Metais pesados
Desde 1999, a resolução 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece que todas as pilhas produzidas no país devem conter quantidades mínimas de metais pesados, como cádmio, mercúrio e zinco e que, obedecendo tais normas, pilhas e baterias poderiam ser descartadas no lixo comum. Ainda assim, é a elevada quantidade desses materiais que preocupa: por ano, são comercializados 1,2 bilhão de pilhas e 400 milhões de baterias de celular, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). “A quantidade de metais de uma pilha é realmente muito pequena. O problema é que em uma tonelada já não é algo insignificante”, explica Patrícia.
Ela levanta também outra questão: o grande número de pilhas e baterias piratas presentes no mercado nacional (quase 33%, segundo as estimativas mais confiáveis), produzidas em total desacordo com as normas da resolução 257. Essa foi uma das razões para o Poli USP Recicla optar pela contratação de uma empresa especializada para recolher todo o material de uma vez , ao invés de separá-los para os devidos fabricantes tratarem, como é recomendado. “Além do trabalho e da dificuldade que seria essa separação, para quem eu mandaria as piratas?”, diz ela. O programa qualificou uma companhia especializada para receber e tratar esse tipo de material. ”A empresa já possui todas as licenças necessárias da Cetesb e do Ibama, e o alvará da Prefeitura. Só esperamos conseguir ainda a empresa especializada no transporte desse tipo de material”, diz Patrícia. Segundo ela, também é necessário atingir uma quantidade mínima de resíduos, já que a empresa só recolhe no mínimo 300 quilos.
A aceitação do projeto pela comunidade politécnica tem sido um estímulo para os gestores do Poli USP Recicla, garante Wélson. “No nosso levantamento de resíduos pelos departamentos, a gente percebia que muitas pessoas já estavam guardando esses materiais, a espera da chegada dos coletores”.
(Por Francisco Angelo, Agência USP, 21/07/2008)