O governo do Uruguai pretende construir no Brasil uma termelétrica a carvão mineral de 350 megawatts (MW), que seria ligada a uma linha de transmissão e aumentaria a exportação de energia para o país vizinho, informou sexta-feira o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Após assinar um acordo com o colega uruguaio Daniel Martinez, Lobão explicou que o projeto visa reduzir custos com a matéria-prima para o Uruguai, já que a unidade seria instalada perto de uma mina de carvão em Candiota, no Rio Grande do Sul.
Uma licitação para a construção da linha de transmissão já está no mercado, de acordo com Martinez, e ligaria Candiota ao Uruguai. A termelétrica seria feita em parceria com a iniciativa privada ou apenas com recursos do governo uruguaio.
Lobão amenizou o impacto ambiental que o projeto que usa uma fonte energética considerada poluente traria para o Brasil, afirmando que atualmente as térmicas a carvão têm tecnologia para reduzir a poluição. "O carvão polui mais no transporte, mas como a térmica vai ficar perto da mina, não tem problema", simplificou.
Intercâmbio energéticoO Uruguai compra atualmente cerca de 70 megawatts do Brasil vindo de usinas térmicas, principalmente nos meses de maio, junho e julho, quando o país está em período seco. Nesta sexta-feira, Lobão assinou com Martinez, no Rio de Janeiro, convênio similar ao feito recentemente com a Argentina, no qual em vez de vender a energia o Brasil apenas empresta durante os meses de chuva para receber de volta na estiagem, a partir de agosto.
"Para nós será muito melhor, porque antes era térmica e era paga. Temos um mês quase todo sem funcionar no rio Negro", disse o ministro uruguaio sobre o período de seca do rio que atravessa o país vizinho e onde estão três hidrelétricas que suprem quase todo o consumo do país.
O acordo faz parte da estratégia brasileira de promover a integração energética na América do Sul, que já envolve parcerias com a Argentina e a Venezuela, da qual o Brasil recebe 200 megawatts para abastecer Roraima. Desde 2004, o Brasil fornece ao Uruguai cerca de 72 megawatts de energia por dia para suprir necessidades internas do país. Lobão explicou que a energia oriunda de termelétricas era paga pelo governo uruguaio ao preço produzido no Brasil. O acordo de agora é semelhante ao celebrado com a Argentina: "Vamos fornecer energia hidráulica, que é bem mais barata, durante os meses de julho, agosto e setembro, e receber de volta essa energia no período de setembro a novembro", ressaltou o ministro.
Lobão disse que, assim como ocorre na parceria com os argentinos, que já começaram a devolver a energia, também com os uruguaios não haverá riscos para o Brasil. "É preciso lembrar que a Argentina começou a devolver a energia bem antes do prazo previsto e, em 10 dias, já reingressou no País quase um terço do que nós fornecemos", disse.
(Gazeta Mercantil,
FGV, 21/07/2008)