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2008-07-21
O alerta tocou mais uma vez entre os ambientalistas gaúchos, que vislumbram outra tragédia ecológica no RS. Mais de 1,5 milhão de árvores, pouco mais do que a arborizaçào de Porto Alegre, distribuídas por 1.132 hectares de florestas e mais de 2 mil hectares de campos nativos poderão desaparecer com a construção de duas imensas barragens de irrigação no coração do Pampa.

As informações foram retiradas dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA/Rima) das barragens de Taquarembó e Jaguari. Dia 14 de julho ecologistas analisaram os documentos, que encontram-se na biblioteca da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA/RS). Constataram que serão quase 4 mil hectares de áreas inundadas, sendo pelo menos 27% compostas por florestas. "Um absurdo pois serão utilizadas para a irrigação de amplas áreas de arroz e também silvicultura. O abastecimento de água para as cidades não depende de tamanha extensão", explicou por E-mail o biólogo Paulo Brack, da UFRGS, um dos responsáveis pela avaliação.

Abaixo veja alguns dos principais impactos que constam no EIA-RIMA elaborado pela Beck de Souza:

- Serão mais de 1.132 hectares de florestas de galeria que deverão ser suprimidas ou sucumbirão com estas duas obras. Uma fauna raríssima e ameaçada e as florestas mais contínuas (Matas em Galeria) da região do Pampa. Na área prevista para o alagamento das barragens, a quantidade de árvores que deverão ser suprimidas e que ocorrem nas duas áreas diretamente afetadas, em conjunto, segundo dados do próprio EIA/Rima, é de 1.579.106 (um milhão quinhentos e setenta e nove mil e cento e seis) árvores nativas, a grande maioria de espécies que não existem em nenhum viveiro do Estado. Esta quantidade corresponde ao total de árvores que ocorre nas ruas de Porto Alegre, cidade considerada mais arborizada do Brasil. Vamos a cada caso:

1) Barragem do arroio Jaguari. Município de Rosário do Sul. Com área prevista para o alagamento de 2.752 hectares para irrigar 17 mil hectares de orizicultura, fruticultura, silvicultura, pastagens cultivadas, ranicultura. Da imensa área a ser alagada temos o impacto de perda de 766 hectares de florestas nativas, com densidades de mais de 1.577 árvores (Com diâmetro de mais de 5 cm) por hectare. Seriam 1.207.982 árvores suprimidas segundo o estudo. Seriam 141.675 m3 de madeira/lenha. Seriam perdidos também 1.986 ha de campos, lavoura, pastagens, entre outros usos.

2) Barragem do arroio Taquarembó. Município de Dom Pedrito. Abastecimento e irrigação de 35 mil hectares de orizicultura, fruticultura, silvicultura, pastagens cultivadas, ranicultura. A área a ser alagada corresponde ao curso de água do arroio Taquarembó. Em uma extensão de 1.350 hectares, sendo perdidos 366 (trezentos e sessenta e seis) hectares de florestas nativas, o que corresponde, segundo dados do EIA/Rima da Beck de Souza, a 371.124 árvores a serem suprimidas. O volume de madeira/lenha a ser retirado ou perdido é de 103.884 m3.
Também seriam perdidos 984 hectares de campos, banhados, lavouras e outros usos.

Os estudos de impacto não fazem referência as espécies da flora ameaçada de extinção pelo Decreto Estadual 42.099/2002. Os levantamentos são insuficientes, com amostragens escassas (80 árvores), não tendo amostragens quantitativas de campo. Nestas áreas existem espécies de fauna de mamíferos ameaçados como gato maracajá (Leopardus wiedii), veado catingueiro (Mazama gouazoupira), gato-do-mato (Oncifelis geofroy), entre outros.
Considerando o dano/benefício, fica evidente que a barragem de Jaguari inundará uma área muito maior (2.752 hectares) e irrigará uma área muito menor (17 mil hectares).

As duas barragens, com cerca de 30 m de altura têm o objetivo de irrigar monoculturas em grandes extensões, inclusive monoculturas arbóreas (eucaliptos) já tem recursos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), em um montante de 130 milhões de reais. Ironicamente, na leitura do documento na biblioteca da SEMA/RS, um dos objetivos das barragens também é a "utilização de água como elemento de preservação ambiental, evitando a migração de espécies da fauna em busca de água e estimulando a procriação pela oferta da mesma".

Curioso é que apesar do impacto, pouco se debateu sobre os projetos. Semana passada venceu os prazos para a Fepam/RS receber sobre os projetos das barragens. "A sociedade gaúcha não pode continuar passiva vendo mais este absurdo passar sem nenhuma atitude. Nossa passividade é um elemento chave para criar um 'ambiente de negócios', onde os investidores não teriam mais entraves e poderiam ampliar as atividades convencionalmente impactantes, com muitos recursos governamentais", defende Paulo Brack. "A biodiversidade do Pampa, geradora de riquezas para outros países, realmente, sucumbe aqui onde as monoculturas favorecidas com recursos públicos raspam os últimos remanescentes de campos, matas nativas e banhados que não recebem a mínima proteção do Estado".

(APEDEMA / Instituto INGA / SOS Rio Uruguai, Texto recebido por E-mail, 18/07/2008)

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