A futura diretora-superintendente da Refinaria Ipiranga, Margareth Feijó Brunnet, começa esta semana a prospectar as condições de suprimento de matéria-prima pela sua maior fornecedora, a Petrobras. O detalhe é um dos gargalos e origens da crise da companhia. Margareth, engenharia química especializada em processamento de petróleo, terá as primeiras reuniões com áreas da companhia no Rio de Janeiro. Dia 28 deste mês, a executiva, pertencente ao quadro de carreira da Petrobras desde 1980, estará em Rio Grande para instaurar a transição. Ao lado da atual diretora-superintendente, Elizabeth Tellechea, de quem foi colega nos conselhos de administração da Braskem e Copesul, Margareth tomará decisões mesmo antes de assumir oficialmente o cargo, o que ocorrerá até 15 de agosto, logo após se despedir do posto de diretora-presidente da Copenor (Companhia Petroquímica do Nordeste), com sede em Camaçari, na Bahia, onde entrou em 2004 com o desafio de tirar a empresa do vermelho. E conseguiu. Agora, prestes a encarar desafio semelhante, a gaúcha de 50 anos, nascida em Cachoeira do Sul, revela otimismo e segurança na busca de nicho cativo da refinaria, além de projetar a reversão da crise para 2009. Esbanjando simpatia e simplicidade, Margareth concedeu ao Jornal do Comércio a primeira entrevista após confirmação de seu nome e tranqüilizou sobre o futuro da refinaria: "Com certeza não está no horizonte a possibilidade de fechar".
Jornal do Comércio - Quando foi o primeiro contato com a Refinaria Ipiranga?
Margareth Feijó Brunnet - Na segunda-feira, dia 14 de julho, quando fui apresentada aos funcionários, em Rio Grande. Foi a primeira vez que estive na planta, que é pequena. Mas pequeno também tem seu espaço. Depois em reunião, em Porto Alegre, na sexta-feira (dia 18), troquei informações com áreas da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), Transpetro, Ipiranga e com a Elizabeth Tellechea. A partir do dia 28, ficarei uma semana em Rio Grande, antes de assumir oficialmente o cargo.
JC - Alguma semelhança entre seu trabalho na Copenor e o que será desenvolvido na Ipiranga?
Margareth - Tem no sentido de as duas serem pequenas no meio de gigantes. A Copenor produz metanol, formol e derivados. Mesmo pertencente 50% a Petrobras, é uma empresa privada e tem de se suportar sozinha. Também enfrenta problema de escala como a Ipiranga. Mas conseguimos dar uma virada. Na minha gestão, que começou em outubro de 2004, conquistamos as certificações 9000, 14000 e 18000 ao mesmo tempo e em prazo recorde.
JC - Quando tu foste para a Bahia, a empresa enfrentava dificuldades?
Margareth - Muitas crises, que não acabam em um mundo em que os preços das matérias-primas estão muito elevados. Na Copenor, é o gás natural. Nas petroquímicas, é a nafta. No refino, é o petróleo. As commodities estão muito aquecidas. Buscamos saídas inteligentes, dentro do mercado e do pólo de Camaçari para garantir continuidade operacional. Em 2007, fechamos sem lucro, mas sem prejuízo. Este ano deve fechar com lucro. O que se espera da Ipiranga é que a empresa consiga respirar ante a crise do momento. Vamos buscar alternativas e nichos de mercado, como nafta, diesel e asfalto, para vender ao Uruguai, por que não, e ao Estado. Também inclui maior sinergia com a Refap e Petrobras.
JC - Como será a interação com a Refap?
Margareth - Pela busca de rotas inteligentes, como se inserir em mercados que a Refap exporta, mas que podem ser mais fáceis para a Ipiranga atuar. Podemos complementar um mercado deficitário da Alberto Pasqualini, como diesel, agregando uma visão sistêmica do Brasil. O mercado consumidor é o Rio Grande do Sul, mas não conseguimos vender tudo aqui.
JC - Tu assumirás a empresa em um momento de prejuízo. Como esperas fechar o ano?
Margareth - Reverter totalmente este resultado este ano é complicado. Mas podemos trabalhar com diminuição do número e, o principal, achar medidas estruturantes que tornem possível uma visão de futuro. Claro, o ano é preocupante e exige medidas urgentes. A perspectiva para 2009: termos um plano de negócios que dê vida e
tranqüilidade para trabalhar. Nossa missão é tornar a continuidade operacional viável e com medidas estruturantes.
JC - A tua indicação é sinal de que entra em cena o padrão de eficiência Petrobras?
Margareth - O fato de eu ser da Petrobras significa que, sim, a companhia quis indicar uma pessoa do seu quadro sinalizando: consideramos esse ativo muito importante e queremos estar bastante atuantes nele.
JC - Rio Grande temia pelo fechamento da refinaria. Essa possibilidade está afastada?
Margareth - Com certeza não está no horizonte a possibilidade de fechar.
JC - A Ipiranga tem redução de ICMS na nafta, que assegura competitividade. A empresa continuará precisando desse tipo de ajuda?
Margareth - Não vejo como ajuda, mas como negociações. Ninguém ajuda ninguém. As empresas têm de se sustentar com suas próprias pernas. Na Copenor, nunca tivemos ajuda da Petrobras. O que obtivemos é a expertise da companhia e a inteligência para buscarmos saídas. Isso que faz a diferença, não é a ajuda econômica. A Petrobras está colocando suas melhores cabeças para estudar o assunto e propor soluções.
JC - Qual o cenário de produção nos próximos meses?
Margareth - Buscar uma solução inteligente é colocar todos os ingredientes na equação. Não basta olhar apenas o mercado ou apenas as alternativas de matéria-prima. Se tu só olhas o mercado e não tens matéria-prima, não se faz milagre. Os investimentos serão de pequeno porte, apenas otimizações. Não vamos mudar o esquema de refino. Vamos aproveitar o hardware que está lá. Existe um grupo na Petrobras que estuda soluções para esse tipo de equação e que nos ajudará.
JC - Como tu esperas solucionar o suprimento de matéria-prima?
Margareth - Vou tomar conhecimento dessa situação nesta semana, em reuniões na Petrobras, no Rio. Não acredito em solavancos no meio do caminho. Existe realmente interesse e preocupação da Petrobras em não ter problema na Ipiranga.
JC - E como resolver a equação dos preços?
Margareth - O mercado do petróleo está muito volátil. Assim como subiu, caiu na semana passada. Precisamos de uma solução mais robusta que agüente os solavancos. O ano de 2008 está comprometido. Vamos buscar mitigar o resultado adverso. Mas em 2009 vamos buscar o resultado no azul. É nessas adversidades que a empresa mergulha
mais fundo em eficiência, em busca de melhorias e otimizações.
JC - Tu assumirás o comando da refinaria mais antiga do Brasil. Isso pesa?
Margareth - Considero isso um valor. A história tem de ser respeitada. Mas no mundo dos negócios não podemos ficar parados. A refinaria, a exemplo de outras empresas, precisa se modernizar e se adaptar a novos cenários. Tenho orgulho de estar em uma empresa que sobreviveu a tantos contratempos.
(Por Patrícia Comunello, Jornal do Comércio, 21/07/2008)