A visita da diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, à Capital nesta semana, fez com que lideranças políticas e empresariais voltassem à realidade quanto às possibilidades reais para a implementação de um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) no Estado. Apesar da forte mobilização, 15 pontos em todo o litoral brasileiro disputam o recebimento da terceira planta de regaseificação da estatal. Pela lógica, ela deverá vir para o Sul do País, já que as outras duas localizam-se nas regiões Nordeste e Sudeste. No Rio Grande do Sul, Tramandaí e Rio Grande são os municípios com indicações para abrigar o terminal. No entanto, critérios técnicos são minuciosamente avaliados pela estatal, que segue um cronograma de atividades, com o objetivo de iniciar as operações da nova estação em janeiro de 2012.
A fim de acalmar os ânimos de autoridades políticas e empresariais mobilizadas pela causa, a diretora da estatal visitou os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na oportunidade, prestou esclarecimentos sobre a análise do destino do empreendimento, baseada em três critérios básicos: viabilidades técnica, econômica e de racionalidade energética.
Pelo abastecimento independente
Na tentativa de reduzir a dependência no abastecimento de gás por governos polêmicos como Bolívia e Venezuela - que, juntos, concentram 3,5% da reserva de gás no mundo - a Petrobras estuda, desde 2006, projetos para instalar três terminais na costa brasileira. Dois deles estão em fase mais adiantada. O primeiro deles é o do Porto do Pecém, no Ceará, que já tem suas obras concluídas e receberá o primeiro navio carregado no início de agosto. Já em 2009, deverá entrar em funcionamento o terminal na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Em junho, o navio de regaseificação de GNL deixou o estaleiro Keppel, em Cingapura, com destino ao terminal em Pecém, onde será atracado a um píer. No percurso até o Brasil, o navio recebe, em Trinidad & Tobago, a primeira carga de gás, transportado a uma temperatura de cerca de 160ºC negativos. De acordo com a estatal, esta é a primeira embarcação metaneira no mundo convertida para a regaseificação a bordo do estado líquido para o gasoso. A chegada da embarcação marca a entrada da Petrobras no mercado internacional, que importará gás de países como África, Ásia e Europa.
Na Baía de Guanabara, o navio será atracado em um píer do tipo ilha. Assim como no terminal de Pecém, as embarcações serão instaladas em águas abrigadas, próximas à rede de transporte e aos mercados consumidores. Um duto ligará o píer ao continente, onde o transporte do gás natural estará integrado ao sistema de gasodutos da empresa. A instalação do terminal pode ocorrer ainda como onshore ou offshore, esta última mais provável para a terceira planta.
Termelétricas: um ponto positivo ao RS
Em visita à sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre, a diretora da estatal deixou claro que a prioridade das estações regaseificadoras é de atender à demanda das usinas termelétricas, o que já é considerado um ponto positivo caso o empreendimento venha para o Rio Grande do Sul. De acordo com o diretor-presidente da Sulgás, Arthur Lorentz, o Estado possui unidades em Canoas e Uruguaiana, que passam por dificuldades devido à falta da matéria-prima. “Em Canoas, a usina é bicombustível e está trabalhando com óleo diesel; já a de Uruguaiana pode ser desativada pela falta de gás natural”, explicou.
A possibilidade de fechamento da termelétrica de Uruguaiana devido à falta de gás vindo da Argentina aumenta a viabilidade da construção de um terminal de GNL no Estado. Formalizada no início deste ano, a mobilização no Rio Grande do Sul é constituída por uma Comissão de Representação Externa na Assembléia Legislativa, a Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás) e a Secretaria de Infra-estrutura e Logística do Estado. Freqüentes reuniões têm sido realizadas com a participação de cada órgão e empresa, incluindo a Petrobras - detentora de 49% das ações da Sulgás pela Gaspetro - para discutir o assunto.
No dia 9 deste mês, uma audiência pública conjunta das comissões do Mercosul e Assuntos Internacionais e de Serviços Públicos levantou as alternativas a curto e médio prazo para a não-desativação da termelétrica de Uruguaiana. Desde maio, a argentina Repsol deixou de abastecer a AES de Uruguaiana, que agora beira ao fechamento.
O assunto deve ser levado adiante e encaminhado à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Nas mãos de Dilma, a proposta é a negociação com o governo argentino para o cumprimento do contrato firmado. A outra alternativa seria o repasse de gás à termelétrica, que forneceria energia à Argentina. Com a estatal, a intenção é fortalecer a mobilização pelo terminal no Rio Grande do Sul.
(Por Camila Almeida, Diário Popular, 20/07/2008)