Pensar que o poder das corporações sobre governos é exclusividade dos países pobres ou em desenvolvimento faz parte do imaginário conspiratório. O caso dos agrotóxicos vem mostrando que isso não passa de ilusão. Na Alemanha, terra mãe dos pesticidas, uma batalha sem precendentes se desenrola entre os apicultores e a gigante Bayer-CropScience, ensinando que mesmo entre os ditos "desenvolvidos" os mandatários optam, muitas vezes, por ficar do lado das empresas.
A polêmica começou em 15 de maio deste ano, quando o
Escritório Federal de Proteção aos Consumidores e Segurança dos Alimentos (BVL - sigla em Alemão) proibiu os agrotóxicos contendo duas substâncias: Clothianidin e Imidacloprid. Eles foram apontados por pesquisas como os principais responsáveis pela morte em massa de abelhas no país, fenômeno também conhecido como "Colapso de Colméias".
A Bayer, principal fabricante dos químicos, não se deu por vencida. Botou seu lobby para trabalhar, com o principal argumento de que o problema não estava no produto, utilizado desde 2004 com "muito sucesso" em culturas de oleaginosas, tubérculos e cereais. Para os executivos da empresa, a causa da mortandade das abelhas é a aplicação sem cuidados, e não as propriedades tóxicas dos químicos.
Esta semana o ministro da Agricultura da Alemanha, Horst Seehofer (CSU), acatou os argumentos da Bayer e, contrariando a decisão do BVL, reestabeleceu a norma para aplicação dos agrotóxicos nas culturas de colza até o final e Agosto. Detalhe, na Alemanha a colza é a principal matéria-prima do biodiesel. Os apicultores prometem reagir. "Levaremos a questão ao parlamento europeu visando proibir esses venenos em todo o continente", prometeu Manfred Hederer, da Federação Alemã de Apicultura.
Curioso mesmo é que apesar da seriedade do assunto, a grande mídia, tanto na Alemanha, como em todo o mundo, tem tratado o problema como uma discussão menor, relegada somente às páginas de opinião dos jornais.
(Ambiente JÁ, 18/07/2008)