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passivos do petróleo
2008-07-18

Todos se queixam dos altos preços do petróleo, mas na realidade não reflete os custos ambientais e ainda é insuficiente para promover as mudanças necessárias para um futuro menos catastrófico da humanidade, alertam especialistas. A alta “brutal e rápida” do preço do petróleo nos últimos anos não gerou mudanças que apontem para uma indispensável “regulamentação” do sistema econômico global, mas para uma “adaptação” no sentido de manter o status quo, segundo Gilberto Dupas, coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo.

A demanda por petróleo continuará crescendo pela “disseminação do padrão de consumo ocidental, especialmente na China e Índia”, e pelo barateamento dos automóveis, cuja indústria prevê que “somente sobreviverão as indústrias globais que os produzirem a US$ 2.500, acentuando a opção pelo transporte individual”, disse Dupas à IPS. Além do novo nível da demanda por alimentos e energia no mundo, a lógica do capital sempre promove “mais destruição criativa”, com equipamentos e produtos se convertendo descartáveis em “ciclos tecnológicos cada dia mais curtos” e em uma contínua renovação, que exige mais energia e matéria-prima, acrescentou.

O “único sintoma” do impacto petrolífero é a inflação generalizada, mais evidente no caso dos alimentos, refletindo a “dependência sistêmica do petróleo”, sem que a crise seja suficientemente profunda para promover uma revisão da lógica, disse Dupas, também presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI). “A resistência do sistema é muito forte”, conclui o autor do livro “O mito do progresso”, no qual analisa os que determinam os rumos do avanço no setor e seus custos ambientais e sociais. Em sua opinião, está em jogo a capacidade do sistema econômico global de reconhecer sua crise e se auto-regulamentar diante de um aprofundamento da crise, complicada pelo aquecimento da Terra.

Os aumentos dos preços do petróleo, cobre e aço fazem parte de um fenômeno novo que deve perdurar, segundo Fernando Cardim de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antes, os países em rápido crescimento econômico, como os chamados quatro tigres asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan), se industrializavam com base na mão-de-obra barata “que acabava” quando se chegava a um certo nível de desenvolvimento importante. Com isso seus cidadãos conseguiam acesso social e dessa forma o processo se estabilizava. Mas isso já não acontece dessa maneira.

A China, com 1,3 bilhão de habitantes, representa uma “força estrutural, uma demanda em crescimento sem freio à vista”. É que sempre há “novas chinas” para repetir ou manter o processo, “modernas e subdesenvolvidas ao mesmo tempo”. É algo “sem precedentes, que torna inútil a história” para fazer comparações, destacou Cardim à IPS. Assim, a China continuará competitiva na indústria têxtil, enquanto antes este era um setor que emigrava para países mais pobres e de salários menores, acrescentou o economista.

Brasil, Argentina e Chile vivem de suas exportações para a China, cuja demanda por cobre e outras matérias-primas tende a continuar crescendo por tempo indefinido, com persistência dos preços elevados. Com uma demanda crescente assegurada, a alta do valor do petróleo não pode ser confundida com as chamadas “bolhas” especulativas, que seriam desfeitas com a alta dos juros, disse Cardim. Mas os altos preços podem produzir uma recessão no curto prazo, alentando a substituição por outras fontes energéticas no longo prazo, previu.

De fato, os preços do petróleo sobem de maneira sustentada desde 2003, ao contrário dos “choques” anteriores de 1973 e 1979, de altas fortes, mas concentradas em pouco tempo, seguidas da estabilização ou mesmo do retrocesso menos de um ano depois. Com o transporte caro, assim como a energia em geral e os alimentos, a economia mundial tende a sofrer mudanças pelo menos setoriais, favorecendo a industrialização local de matérias-primas, avaliou Giuseppe Bacóccoli, especialista em petróleo do programa de pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O Brasil é um dos países que se beneficiará com esta situação por dispor de muitas matérias-primas e fontes de energia, incluindo as novas jazidas de petróleo descobertas a grande profundidade em sua zona marítima de exclusão, que logo o converterá em exortador desse combustível, afirmou. Em 1973 e 1979, o Brasil foi o mais atingido pelo súbito aumento dos preços nos mercados internacionais do petróleo, devido à sua grande dependência externa, fato que levou à iniciativa pioneira de um amplo programa de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, para substituir a gasolina cara. Mas, aproveitar essa oportunidade exige “força de trabalho formada”, preparada para o trabalho coletivo e o uso de tecnologias, além de matérias-primas e energia barata, fatores que favorecem o Brasil, mas não a África, lembrou Cardim. A África também sofre outro obstáculo que é a escassez de minério de ferro, acrescentou Dupas.

No curto prazo os altos preços do petróleo não irão alterar o sistema, mas conduzem a uma recessão econômica mundial, afirmou Cardim. No longo prazo, perdurando a alta e se confirmando que a produção mundial de petróleo chegou ao seu limite, a substituição por outras fontes energéticas produziriam uma “nova revolução industrial”, acrescentou. A grande esperança de energia abundante e não contaminante, o hidrogênio, somente será viável economicamente por volta de 2020, previu Bacóccoli.

(Por Mario Osava, Envolevrde, IPS, 17/07/2008)


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