A expressão “programa de índio” ganhou nova conotação graças à presença de um grupo de representantes da etnia Guarani na SBPC Jovem, uma das atividades da 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece na Unicamp. Os indígenas, que vivem em uma aldeia de São Sebastião, município do Litoral Norte de São Paulo, promoveram nesta quinta-feira (17/06) três oficinas que contam com a participação do público: culinária, artesanato e dança (inclui jogos e brincadeiras). “Nossa, isso é mó legal. Gostei de tudo”, afirma a pequena Mariana, de 9 anos, moradora de Ribeirão Preto, que traz o rosto pintado e carrega arco e flecha nas mãos.
As atividades realizadas pelos guarani fazem parte de um projeto desenvolvido por pesquisadores da Unicamp, cujo objetivo é promover o resgate da cultura e da memória indígena no Estado. De acordo com Vera Regina Toledo Camargo, pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), estão envolvidos no trabalho a Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Faculdade Educação Física (FEF) e Núcleo de Estudos de População (Nepo). “Num ambiente como a SBPC, em que a tecnologia é tão debatida, os índios trazem para as pessoas as tecnologias que empregam há milhares de anos na confecção da comida, ferramentas e utensílios”, explica Vera.
Para o cacique da aldeia Guarani, Sérgio Karai Tataendy, cujo sobrenome significa “Filho do Fogo Sagrado”, a acolhida que o grupo tem recebido na Unicamp e por parte do público tem sido “excelente”. “Estamos tendo a oportunidade de mostrar um pouco da nossa cultura para as pessoas. Isso é importante para preservar os nossos costumes”, considera. De acordo com ele, cerca de 460 pessoas moram atualmente na comunidade de São Sebastião. Eles vivem basicamente do plantio de culturas de subsistência, do artesanato e do turismo. “Nossa maior dificuldade tem sido a falta de terra. Sem ela, nós não conseguimos produzir o suficiente para manter tanta gente”, lamenta.
Nas oficinas que estão sendo promovidas na SBPC Jovem, os visitantes aprendem, por exemplo, a confeccionar flautas de bambu, a produzir petecas e a cozinhar. As atividades gastronômicas, diga-se, chamam a atenção tanto das crianças quanto dos adultos. Os guarani usam o milho e a mandioca, dois produtos que compõem a base da alimentação da aldeia, para fazer alguns pratos. A pamonha, por exemplo, é feita apenas com o milho ralado, que posteriormente é embrulhado na palha do milho ou colocado no interior de uma taquara de bambu. Em seguida, é levada para assar diretamente na brasa. Em dez minutos está pronta.
Segundo Ricardo Karai Apoty (Deus das Flores), a pamonha é consumida pelos índios junto com o peixe ou como uma espécie de sobremesa, desde que acompanhada de mel. “É uma delícia”, assegura. E é mesmo. O repórter experimentou e aprovou. Quem também gostou da comida e das outras atividades foram as crianças Isabela (8 anos), de Campinas, e Pedro (5 anos), de Goiânia. “Eu nunca tinha visto um índio de perto antes. Eles são muitos legais”, afirmou a menina. “Eu gostei de tudo, mas mais dos índios. Até vou dar duas flechadas”, completa, empolgado, o garoto.
(Por Manuel Alves Filho, Jornal da Unicamp, 17/07/2008)