A ecologia nada tem a ver com lutar pela preservação de plantinhas e animais - trata-se de uma ciência fundamental para o estudo e a conservação da biodiversidade. A importância da pesquisa em ecologia para a conservação dos diversos biomas brasileiros foi o tema central debatido na mesa-redonda “Pesquisa Ecológica no Brasil Hoje – Ampliação e Aplicação do Conhecimento”, que aconteceu nesta quarta-feira (16/07) à tarde no ciclo básico I.
Ricardo Machado, diretor do Programa Cerrado/ Pantanal da ONG CI (Conservation International), apresentou assuntos referentes às bases ecológicas para a conservação em diferentes biomas brasileiros. Ele alertou para a situação da cobertura vegetal nativa no Brasil. O cerrado é o campeão de alterações na sua paisagem, seguido pela Mata Atlântica, a Amazônia, a Caatinga, os Pampas e o Pantanal, em seqüência decrescente. A biologia da conservação e a ecologia de paisagens foram apontadas por ele como métodos eficientes para viabilizar a recuperação de áreas degradadas e a conservação do que ainda existe de biodiversidade no país. “O objetivo da biologia da conservação não é proteger espécies ou ecossistemas nativos, mas adotar medidas de manejo da biodiversidade necessárias para manter o processo evolutivo na Terra, a despeito da presença do homem”, explicou.
Machado criticou a forma como é tradicionalmente feita a conservação no Brasil, onde, na opinião dele, somente aquelas áreas que não servem para pastagem, pecuária e agricultura, são destinadas à conservação. “As piores áreas do ponto de vista econômico são destinadas à conservação. Se não existe critério para destruir as florestas, porque é necessário argumentar tanto para criar Unidades de Conservação?”, questionou, lembrando que os investimentos públicos em conservação em 2007 representaram apenas 0,1% do orçamento público.
Para Machado, é importante que continuem sendo definidas quais são as Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, projeto do Ministério do Meio Ambiente, que produz um mapa periodicamente revisto por especialistas. “Essa é a maior contribuição da comunidade científica para influenciar políticas públicas conservacionistas”, opinou. Ele também avalia que a criação de Unidades de Conservação (UCs) contribui muito para conservar a biodiversidade.
A mesma avaliação fez Jean Paul Metzger, do Laboratório de Ecologia de Paisagens e Conservação, da USP. Ele enfatizou que não basta apenas criar Unidades de Conservação, é preciso criar redes de UCs, interligando-as e formando mosaicos. “Precisamos pensar em manejo de mosaicos de UCs, porque a extinção de espécies pode ocorrer mesmo dentro de uma UC”, explicou o pesquisador através da exposição de conceitos de ecologia da paisagem, que demonstram que quando há conectividade entre áreas preservadas (através de corredores florestais, por exemplo), há maior sobrevivência de espécies e equilíbrio nos ecossistemas. O mesmo acontece também em paisagens fragmentadas, onde a presença de corredores e ilhas de biodiversidade facilita o trânsito de animais e conseqüente fluxo gênico em espécies florestais.
Metzger alerta para o fato de a paisagem estar mudando rapidamente, o que pode levar à extinção de muitas espécies, que possuem a capacidade de se adaptar às mudanças do ambiente. Porém, como o processo está muito rápido, elas não estão conseguindo acompanhar as mudanças impostas pelo homem em seu habitat.
O moderador da mesa-redonda, professor Thomas Michael Lewilsohn (Instituto de Biologia da Unicamp), abriu a sessão falando sobre a ABECO (Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação), criada em 2007 com a intenção de ser uma vitrine para a pesquisa em ecologia que é desenvolvida no Brasil. Ele apontou o crescimento expressivo da pesquisa ecológica nos últimos 30 anos. Contudo, observou o docente, a ecologia no país ainda é vista como um papel a ser desempenhado por ativistas, e não como uma ciência necessária à conservação de biomas ameaçados. “A escassez de periódicos especializados no tema inviabiliza o escoamento da produção dos artigos sobre pesquisas em ecologia realizadas no Brasil”, acrescentou.
(Por Sara Nanni, Jornal da Unicamp, 17/07/2008)