Para a presidente da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, Maria Amélia Enriquez, há uma contradição entre o modelo atual de desenvolvimento econômico da Amazônia e os indicadores da preservação ambiental. Ela explica que, embora no discurso exista uma tentativa de mudança no modelo que contemple aspectos de preservação, as políticas não induzem a essas mudanças. “Há um conflito estrutural entre economia e meio ambiente quando se olha na perspectiva de recursos naturais. O modelo que prevalece, além de não considerar a necessidade de preservação da natureza, não reflete positivamente nos indicadores econômicos”, destacou Maria Amélia, que também faz parte do quadro de docentes da Universidade Federal do Pará.
Ela participou, na tarde de quarta-feira (16/07) do simpósio “Economia, Ecologia e os conflitos ambientais do desenvolvimento”, coordenado por Clóvis Cavalcanti, da Fundação Joaquim Nabuco, no Acre. A proposta das apresentações foi, justamente, ilustrar a luta e evolução entre a economia e o meio ambiente e difundir os valores e trabalhos científicos na perspectiva da Economia Ecológica, uma área relativamente nova que busca discutir a relação entre o sistema econômico e o ambiental.
Dados apresentados pela pesquisadora mostram que quanto maior a renda per capita observada nos estados que compõem a Amazônia, maior é o impacto ambiental causado por taxa elevada de desflorestamento. “Em termos de crescimento econômico e, até mesmo, de índices de desenvolvimento humano, quem mais destrói é o que melhor desempenho apresenta”, esclarece.
Nas estimativas aparecem o estado do Mato Grosso como um nível de crescimento ascendente, enquanto a área devastada é crescente. Ao contrário do Amazonas, onde houve pouco desmatamento, mas um declínio na renda per capita.
Maria Amélia lembra que as políticas que forjaram o atual modelo ocorreram na década de 1960. A colonização pela “pata do boi”, as políticas de incentivos fiscais e de concessão de créditos e o agronegócio como solução para as contas externas constituem alguns dos exemplos de iniciativas que culminaram no modelo de desenvolvimento econômico existente. Como desafio, a presidente observa que é preciso explicitar o conflito. Na opinião de Maria Amélia, apenas desta forma será possível contornar o problema. Outros dois desafios seriam a garantia da diversidade de uso e ocupação do território e manter a floresta em pé para garantir a sustentabilidade econômica das populações locais.
Segundo o coordenador do simpósio, Clóvis Cavalcanti, os interesses que sempre prevalecem para determinada política são os econômicos. Ele ilustrou seus argumentos com o caso do Complexo Industrial Portuário de Suape, em Recife, que, em sua opinião, “é uma forte representação do discurso enganador do crescimento econômico”. Em 1974, quando começou a ser idealizado, o Complexo surgiu como a solução que levaria o Nordeste a níveis altos de indicadores econômicos. “A visão passada foi que o ganho econômico poderia superar qualquer malefício provocado ao meio ambiente”, explica.
Para quem conhece, continua Cavalcanti, a praia de Suape constitui uma das paisagens mais belas da região. Segundo o coordenador, o local teria impressionado Charles Darwin, em 1836. O cientista, quando em passagem pelo local, teria mencionado em uma de suas publicações que a linearidade dos recifes parecia mais uma obra de engenharia do que da natureza. Nem mesmo os pronunciamentos públicos de Cavalcanti ou o manifesto feito por acadêmicos sensibilizaram as autoridades sobre a obra que acabaria, entre outras coisas, com uma comunidade de pescadores. Hoje o Complexo utiliza boa parte da região e a idéia é construir uma Refinaria e uma Siderúrgica nas proximidades. “Para quem vai a conta do débito ambiental que o desenvolvimento econômico pode proporciona?”, indaga.
(Por Raquel do Carmo Santos, Jornal da Unicamp, 17/07/2008)