No estudo A Evolução das Desigualdades Territoriais no Rio Grande do Sul, o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Carlos Paiva, aponta que a silvicultura não vai resolver o problema da metade sul do Estado. Paiva afirma que a estrutura fundiária e a distribuição de renda estão concentradas em grandes proprietários de terra, o que prejudica o desenvolvimento da metade sul. O desempenho econômico da região está abaixo da média nacional e da estadual.
“Em regiões que se tem uma distribuição fundiária e de renda perversa, concentrada, onde poucas pessoas têm a maior parte das terras e se apropria da maior parte da renda, não se desenvolve um mercado consumidor regional importante”, diz. No entanto, são poucas as alternativas. Segundo Paiva, as características geográficas da metade sul do Estado limitam a possibilidade de diversificar a produção agropecuária.
“São limitadas as culturas que podem se desenvolver nessa região. São terras com o solo muito pequeno, não dá pra arar durante muito tempo, que acaba gerando desertificação, tem uma região perto de lagoas que é arenosa, tem o escudo riograndense, que é uma região pedregosa”, diz.
Para Paiva, o florestamento é uma das poucas alternativas para a metade sul. No entanto, não resolve o problema da região porque não é um setor que gera muitos empregos. Além disso, fortalece a estrutura fundiária existente, com grandes empresas nacionais e multinacionais concentrando terras, o que não mobiliza o mercado consumidor interno.
O florestamento também causa danos ambientais. Paiva explica que a topografia da região sul não é adequada para o plantio de eucalipto e pinus, como está sendo permitido pelo governo do Estado. “Tem um limite dentro do qual a metade sul pode tolerar o florestamento, porque absorve muita água e ela tem limitações no plano de oferta de água. Como é uma região muito plana é muito difícil construir barragens que sejam profundas e quando se constrói espelhos de água ela se evapora”, diz.
Paiva acredita que o florestamento para o setor madeireiro pode ser uma saída para a metade sul. No entanto, é necessário respeitar os limites ambientais da região, evitando as monoculturas. Ele afirma que o setor madeireiro impulsionaria a economia local porque é um gerador de empregos.
“Florestamento não para celulose, mas para mobiliário, porque o florestamento para a produção de madeira para móveis é mais exigente em termos de mão de obra. A madeira que é solicitada para o mobiliário exige mais cuidado, não pode ter tantos nós, tem que fazer poda mais freqüente, o espaçamento é maior”, diz.
(Por Paula Cassandra,
Agência Chasque, 16/07/2008)