Enquanto cientistas discutiam aspectos técnicos e éticos da experimentação animal ontem (14/07) na reunião da SBPC, professores e estudantes do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) organizaram um evento paralelo contra o uso de bichos em pesquisas. Uma das convidadas à mesa, a antropóloga da USP Maria Lúcia Montes, defende que é necessário criar "outra relação com a vida" e procurar "novos meios de fazer ciência". Ela diz que hoje há uma indiferença da sociedade em relação a todos os que são mais fracos -pobres, velhos, doentes, crianças etc. Montes diz que não se interessa por detalhes técnicos, mas é contra a idéia de que "vale o sacrifício de qualquer outro ser" em benefício de humanos. "Assim como existe o racismo e o sexismo, há o especismo."
O farmacólogo da Unicamp João Ernesto de Carvalho, numa conferência da programação oficial da SBPC com presença de ativistas, cobrou coerência de quem se diz contra cobaias. Olhou para um manifestante que tinha cabelo pintado ("a tintura também é testada em animais") e sugeriu que um boicote às últimas conseqüências teria de cortar medicamentos e serviços básicos. Até a água tratada, diz, se beneficia das cobaias, pois para determinar o uso seguro do cloro são feitos testes em bichos.
Regina Markus, coordenadora do evento da SBPC, diz ser favorável ao uso de métodos alternativos de teste, sempre que possível. Em uma de suas linhas de pesquisa, diz, ela conseguiu trocar cobaias por células em cultura, após três anos de trabalho na nova técnica. Em muitos casos, ela diz, a ciência não pode mesmo dispensar os animais vivos. (AB)
(Folha de S. Paulo, 15/07/2008)