O desejo da transnacional Aracruz Celulose de transformar regiões do Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais – o mais novo projeto – no “vale da celulose” está prestes a se concretizar. Atrás de mais regalias, terras para a monocultura do eucalipto e, sobretudo, recursos naturais, a transnacional está prestes a ocupar todo o leste mineiro.
O anúncio do novo empreendimento em Governador Valadares, em Minas Gerais, foi oficializado nessa segunda-feira (15), e entre as principais características do projeto figura aquela em que ele passa diretamente pelo Estado. O uso da ferrovia Vitória-Minas, das águas do Rio Doce e da infra-estrutura montada no Estado representam o ônus da nova fábrica para os capixabas.
Outro ponto levantado pela transnacional como vantagem comparativa do novo projeto é a ampliação do seu leque de benefícios fiscais. A tendência é que o novo projeto conte com o mesmo modelo de benesses que começa a enfrentar resistências no Espírito Santo, mas que permitem à Aracruz reduzir drasticamente seus custos de produção.
Atualmente, a Aracruz conta com uma série de incentivos que vão desde o não-pagamento ou abatimento no valor do ICMS, e o mais recente, que promete o uso de créditos fiscais no pagamento de tributos sobre as exportações de maquinário para a unidade Barra do Riacho e futuras expansões.
No entanto, fatores como disponibilidade de novas terras sem conflitos, uma região sem a vivência com os malefícios da monocultura do eucalipto e a ferocidade dos grandes projetos também pesaram na balança. A empresa enfrentou um grave embate com os indígenas de Aracruz - solucionado apenas em 2008 – e também sentiu a barreira anti-econômica de possuir plantações distantes de sua fábrica.
Em Minas Gerais, as florestas da empresaa deverão ficar em um raio de 50 a 60 quilômetros de sua planta industrial, margem considerada ideal para reduzir o custo do frete. Todos esses motivos fizeram o presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, afirmar em reportagem do jornal “Valor Econômico” que Minas Gerais tem as condições favoráveis para a nova fábrica.
Apesar da distância entre a fábrica e o porto privado da Aracruz, Portocel – localizado na costa capixaba ao lado da unidade de Barra do Riacho – não haverá nenhum impedimento para a nova fábrica. Mais uma vez, o destino do eucalipto serão as terras capixabas. Para isso, a empresa confirmou que irá utilizar a ferrovia Vitória-Minas, a exemplo de uma produtora de celulose, a Cenibra, instalada no vale do Aço mineiro.
Outro benefício da nova fábrica será a proximidade de reservas privilegiadas de água, vindas do berço do Rio Doce. A monocultura do eucalipto é conhecida como uma das que mais utilizam os recursos hídricos do solo. Para se ter uma idéia do consumo de água voraz, para cada tonelada de celulose produzida são necessários 120 mil litros de água.
A nova fábrica da empresa deverá começar a ser construída em 2014 e iniciar suas operações já no ano seguinte. A capacidade apenas da primeira fábrica – de uma série de até três unidades até 2025 – será de 1,4 milhão de toneladas de celulose por ano, representando um investimento potencial da ordem de US$ 2,4 bilhões, incluindo a compra de terras, formação de florestas e investimento industrial.
O projeto se encaixa no plano da Aracruz de produzir sete milhões de toneladas de celulose até 2015, o dobro do que é fabricado hoje. Com isso, a empresa estima responder com 25% da demanda mundial por celulose de fibra curta, sua especialidade.
(Por Nerter Samora,
Século Diário, 16/07/2008)