Satélites do Inpe detectaram em maio 1.096 quilômetros quadrados de floresta derrubada, o que representa uma ligeira redução em relação aos 1.123 quilômetros quadrados registrados em abril. Para o ministro Carlos Minc, redução “não é motivo de júbilo”.
RIO DE JANEIRO – Após reter por duas semanas os dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o governo federal finalmente divulgou nesta terça-feira (15) os números do desmatamento na Amazônia relativos ao mês de maio. Os satélites do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) registraram 1.096 quilômetros quadrados de floresta derrubada, o que representa uma ligeira redução em relação aos 1.123 quilômetros quadrados registrados em abril.
Durante entrevista coletiva concedida em Brasília, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou “não ser possível comemorar uma redução como essa” e disse que o governo está ciente de que “muito resta a fazer” para conter o desmatamento: “É melhor cair do que aumentar, mas esse número não é motivo de júbilo”, disse o ministro. O período de medição anual utilizado pelo Inpe termina no último dia de julho, e a previsão do Ministério do Meio Ambiente (MMA) é de que o desmatamento acumulado nos doze meses ultrapasse a casa dos 13 mil quilômetros quadrados, número maior que os 11.224 quilômetros quadrados registrados entre agosto de 2006 e julho de 2007.
Apesar da polêmica criada em torno da demora na divulgação dos dados do Inpe, Minc defendeu a estratégia do governo, pois ela possibilitou que os dados coletados pelo Deter fossem desagregados: “Desta vez, estamos apresentando informações separadas sobre quanto do total desmatado é corte raso com perda completa da vegetação e o que é degradação alta, moderada, leve e falso desmatamento. Com isso acaba a cobrança dos governadores sobre a exatidão dos dados do Inpe”, disse o ministro, numa referência aos governadores Blairo Maggi (Mato Grosso) e Ivo Cassol (Rondônia), dois críticos contumazes dos dados apresentados pelo instituto.
O estado governado por Maggi continua imbatível no posto de campeão do desmatamento. De acordo com o que foi registrado pelos satélites do Inpe em maio, pouco mais de 646 quilômetros quadrados de área desmatada se encontram em Mato Grosso. Ainda assim, o estado apresentou uma redução de 19% em relação a abril, quando foram derrubados 794 quilômetros quadrados de floresta. Para compensar, o Pará aumentou em maio para 262 quilômetros quadrados sua área desmatada, superando em muitas vezes a inacreditável marca de 1,3 quilômetro quadrado registrada em abril.
A diferença dos números relativos ao Pará se explica pela concentração de nuvens sobre a Amazônia. Em abril, apenas 11% do estado pôde ser corretamente observado pelos satélites. Em maio, esse área aumentou para 41%. O inverno é a época do ano em que há menos nuvens sobre a floresta amazônica, por isso a expectativa dos técnicos do Inpe e do MMA é que os dados relativos a junho e julho dêem uma noção exata do estágio do desmatamento.
Fundos terão US$ 1,5 bi
Minc anunciou que o Ibama e a Polícia Federal irão intensificar as ações conjuntas em “áreas consideradas prioritárias” pelo governo na Amazônia: “Estão previstas 45 novas operações para os meses de julho e agosto”, disse. O ministro informou também que na próxima semana o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá assinar o decreto que regulamentará as mudanças na Lei de Crimes Ambientais: “Vai acabar essa história de protelar pagamento de multas. Agora os infratores terão no máximo quatro meses”.
No dia 1º de agosto, segundo Minc, o presidente Lula também assinará, em cerimônia prevista para o Rio de Janeiro, os decretos que instituirão o Fundo Amazônia, dotado de US$ 900 milhões iniciais, e o Fundo de Mudanças Climáticas, que terá US$ 600 milhões. Ambos serão alimentados com recursos captados junto a outros governos, instituições de cooperação multilateral e entidades filantrópicas: “A criação desses fundos complementa as ações de fiscalização, pois traz incentivos econômicos para mitigar as mudanças climáticas e o desmatamento na Amazônia”, disse o ministro.
Diretor do MMA pede pra sair
As notícias positivas trouxeram alívio a Carlos Minc numa semana que ameaçava ficar marcada pelo pedido de demissão do diretor de Políticas para a Amazônia do MMA, André Lima, que, segundo fontes de Brasília, sai do governo descontente com a interferência dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Roberto Mangabeira Unger (Ações de Longo Prazo) na política ambiental.
Em carta enviada a Minc, Lima critica de forma dura os setores do governo que dificultam o combate ao desmatamento: “Em função da flacidez, da forma periférica e, no mínimo, ambígua com que o centro do governo vem tocando o assunto nos últimos meses, notadamente a partir da reação de parte da sua base aliada que se sente no mínimo desconfortável com o acerto e a vitalidade das medidas em curso, é que se torna inviável minha permanência no MMA”, disse.
A principal queixa de Lima era a diretriz dada por Mangabeira Unger ao Plano Amazônia Sustentável (PAS), para o qual o ministro foi nomeado coordenador pelo presidente Lula. A gota d’água que provocou a saída do diretor do MMA foi a ida de Mangabeira à Noruega para discutir o Fundo Amazônia, iniciativa unilateral que também contrariou o próprio Carlos Minc: “O pedido de demissão foi precipitado, mas o Mangabeira realmente extrapolou”, disse o ministro do Meio Ambiente.
(Por Maurício Thuswohl, CartaMaior, 15/07/2008)