À primeira vista são apenas cinco espécies de peixes e três plantas minúsculas, mas estão em perigo de extinção, tal como o emblemático lince ibérico. Um projecto de preservação da biodiversidade, lançado ontem no Aquário Vasco da Gama, em Lisboa, quer salvá-las, reproduzindo-as em cativeiro e repondo-as nos rios.
A ideia passa por reproduzir e manter fora do seu habitat natural populações de algumas das espécies mais ameaçadas e endémicas de Portugal. E com isso, diz Vítor Almada, investigador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), "obter amostras científicas de população de maneira a que seja possível repor essas espécies". Almada vai mais longe: "Isto é uma máquina de fazer peixe para evitar extinções, em muitos casos iminentes".
A boga do Oeste, a boga-portuguesa, o escalo do Mira, o escalo do Arade e a boga do Sudoeste são as cinco espécies de peixes, de um total de seis espécies endémicas de Portugal, que se encontram ameaçadas. Além dos peixes, o narciso do Algarve, o trevo--de-quatro-folhas e a pilularia minuta também necessitam de medidas de emergência e vão também eles beneficiar deste projecto de conservação.
"Durante este ano foram capturadas a boga do Oeste e a boga-portuguesa, que são as espécies prioritárias neste momento em termos de intervenção do projecto. E foi feito o levantamento também das instalações da estação de Campelo [uma piscicultura actualmente desactivada na região de Figueiró dos Vinhos], que vai entrar em obras de remodelação ainda durante este mês", adiantou Paulo Lucas, da Quercus. Em Setembro, as espécies vão sair do Aquário Vasco da Gama e mudar-se para Figueiró dos Vinhos.
A primeira fase do projecto, já em curso, vai durar três anos. Numa segunda fase, depois da reabilitação dos rios - que passará pela melhoria da qualidade da água e restauração de habitats -, estes serão repovoados com mais espécies. "Se deste esforço pudermos evitar a perda de uma, duas, três espécies, já será positivo", dizia ontem Vítor Almada.
O protocolo foi assinado pela Quercus, o ISPA, o Aquário Vasco da Gama, a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa e a Câmara de Figueiró dos Vinhos. A EDP é o mecenas desta acção. A empresa aproveitou a ocasião para apresentar o Fundo EDP para a Biodiversidade, no valor dois milhões e meio de euros e a ser utilizado, até 2011, por qualquer entidade que desempenhe competências de conservação da natureza.
(Por Daniela Gouveia, Ecosfera, 16/07/2008)