Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei que autoriza a venda de parte do capital da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a iniciativa privada. O projeto, de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS), prevê que a Embrapa se torne uma empresa mista, assim como a Petrobras. A União manteria em seu poder mais de 50% das ações com direito a voto, sendo ainda o maior acionista.
O senador argumenta que a abertura ao capital privado poderia garantir mais investimentos nas pesquisas. De acordo com Amaral, 70% dos recursos da Embrapa são utilizados hoje para cobrir gastos com funcionários e encargos. Outros 10% com despesas de custeio, restando apenas 10% para a pesquisa.
No entanto, os próprios funcionários da estatal já se colocaram contrários à abertura para a iniciativa privada. O representante do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sintaf), Ivegdonei Sampaio, afirma que o problema da Embrapa poderia ser resolvido caso as administrações federais passassem a investir mais na estatal. Ele relata que a Embrapa chegou a ter quase 11 mil funcionários nos anos 80, mas hoje conta com apenas 8,5 mil.
“A tendência é de que cada vez mais que o quadro vai se aposentando, a reposição não é feita de acordo com as pessoas que se aposentam. Temos também a preocupação de que em todos esses anos sempre foi investido em torno de US$ 80 a 120 mil para preparar pesquisadores com doutorado, muitas vezes com doutorado no exterior. E todo esse treinamento, esse investimento, nunca teve um único centavo da iniciativa privada”, afirma.
Outros exemplos, como o da Petrobras, diz o sindicalista, mostram que a abertura de capital não é uma boa saída. Atualmente, os funcionários da petroleira são em sua maioria terceirizados e sofrem com relações precárias de trabalho.
Ivegdonei também teme que a entrada do setor privado possa restringir as pesquisas para a população, já que as empresas vão querer ganhar lucro de alguma forma. Para ele, os 35 anos de existência da empresa comprovam que, com investimento, a estatal é bastante rentável.
“Somos contrários porque isso aqui é um patrimônio que foi construído, durante 35 anos, com dinheiro que foi investido pelo governo. A gente tem várias coisas, como o banco de germoplasma com as características de cada região, temos o controle de todos os biomas do Brasil, já geramos em torno de 18 a 20 mil tecnologias, algumas de ponta, como o plantio direto e o baculovírus, o controle biológico do pulgão”, diz.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 15/07/2008)