No que chamou de “Fato Relevante” em comunicado ao mercado, a Aracruz Celulose confirmou que é viável a construção de três fábricas de celulose em Minas Gerais, com capacidade total de 4,2 milhões de toneladas anuais. Produção maior do que as três fábricas no Espírito Santo, que decreta a morte do Rio Doce. Também toma terra da produção de alimentos. O “fato relevante” da transnacional Aracruz Celulose foi publicado em seu site, e é datado desta segunda-feira (14). Isac Roffé Zagury, diretor de relações com investidores, assina o comunicado.
Diz que “em cumprimento ao disposto no artigo 157, § 4º da Lei 6.404/76 e na Instrução CVM nº 358/2002, a Aracruz Celulose S.A. ("Aracruz") comunica que foram concluídos os estudos preliminares que indicam a viabilidade de instalação futura, na região de Governador Valadares (MG), de uma nova fábrica da empresa, com início das operações previsto para até 2015 e com capacidade para produzir 1,4 milhão de toneladas de celulose por ano, representando um investimento potencial da ordem de US$ 2,4 bilhões, incluindo compra de terras, formação de florestas e investimento industrial”.
Mas não é só, diz a Aracruz Celulose: “Os estudos indicam ainda que a região apresenta condições favoráveis para acolher duas fábricas adicionais, cada uma com capacidade de produção equivalente à da primeira”. E que “considerando os resultados desses estudos, que abordaram aspectos econômicos, sociais e ambientais, a Aracruz está iniciando medidas visando à ampliação de sua base florestal na região e à obtenção de licenças ambientais”.
Para finalizar: “Não obstante, a efetiva implantação das várias etapas do projeto e a realização dos investimentos correlatos depende de futura deliberação do Conselho de Administração da Aracruz, que oportunamente se manifestará levando em consideração, entre outras, as condições econômicas, de mercado, de infra-estrutura e de licenciamento prevalencentes à época em que a referida decisão venha a ser tomada”.
As fábricas que a Aracruz Celulose construirá em Minas Gerais terão capacidade superior à instalada no Espírito Santo. No ano passado, a empresa concluiu a ampliação da produção de suas fábricas em Barra do Riacho, no município de Aracruz. A capacidade de produção da transnacional nas fábricas A, B e C passou para 2,33 milhões de toneladas anuais, um aumento de 9%.
Não deve ser descartada a construção de uma quarta usina no Espírito Santo. É que o governo Paulo Hartung vem criando todas as facilidades para expansão da base de produção de eucalipto no Estado.
A empresa tem carta branca do governador mineiro Aécio Neves (PSDB). Mas não conta só com favores dos governos de Minas Gerais e do Espírito Santo. No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crucis (PSDB) deu licença ambiental à empresa, que construirá uma nova fabrica em Guaíba. A usina entrará em operação em 2010.
O governador Jaques Wagner (PT), da Bahia, também facilita tudo para a Aracruz Celulose. Na Bahia, a empresa também construirá sua segunda fábrica, a Veracel 2, em Eunápolis. Esta usina entrará em operação no final de 2011. Nesta empresa a Aracruz Celulose e é sócio da sueco-finlandesa Stora Enso.
A Aracruz Celulose tem projeto de elevar sua capacidade de produção das atuais 3,2 milhões de toneladas por ano para 7 milhões de toneladas anuais até 2015. De olho no mercado europeu, norte-americano e principalmente no chinês, a empresa poderá ampliar seu projeto de produção.
Conta maior para o Espírito Santo – A construção das fábricas de celulose em Minas Gerais irá gerar enormes prejuízos para toda a bacia do Rio Doce, que vai acabar de secar. Mas o prejuízo maior será do Espírito Santo, ponta do gigantesco esgoto em que será transformado o rio.
O principal impacto dos plantios de eucalipto para abastecer as fábricas será o elevado consumo de água, o que decretará a definitiva morte do Rio Doce. É que em um ano, uma árvore de eucalipto consome 36,5 mil litros de água e são plantadas 1.100 árvores por hectare. Para abastecer cada fábrica, são necessários pelos menos 100 mil hectares de plantios na bacia do Rio Doce.
Estudos realizados desde a época de Augusto Ruschi apontam o grande consumo de água pelo eucalipto. Pesquisas recentes realizadas no Rio Grande do Sul confirmam que o eucalipto consome tanto águas superficiais quanto subterrâneas.
Além dos plantios nas terras que estão sendo compradas em Minas Gerais, serão realizadas plantações até no noroeste e em parte da região de montanha do Espírito Santo. A bacia do Rio Doce já sofre com a perda da mata nativa, reduzida a 7%. Além do desmatamento, a bacia está degradada por pastagens. Na foz do Rio Doce, em Regência, há trechos intermitentes nos períodos de seca. Onde há plantio monocultural de eucalipto também há perda de biodiversidade, e empobrecimento do solo. Como aconteceu no norte capixaba.
Os plantios de eucalipto da Aracruz Celulose já cobrem todo o sul da Bahia, norte do Espírito Santo, agora se disseminando para todo o território capixaba. Agora, os plantios da transnacional em Minas Gerais serão somados aos plantios de eucalipto usados na siderurgia local.
Para produção de celulose há necessidade ainda maior de água. Para cada tonelada de celulose produzida são necessários 120.000 litros de água. No Espírito Santo, as fábricas da Aracruz Celulose localizadas em Barra do Riacho, município de Aracruz, consomem no processamento e branqueamento da celulose aproximadamente 250 mil metros cúbicos diariamente, o que equivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes.
Além de secar a bacia do Rio Doce, nos eucaliptais da Aracruz Celulose serão utilizados agrotóxicos que contaminarão o solo da região e serão carreados para o mar durante as chuvas.
Governador Valadares, onde serão construídas as fábricas em Minas Gerais, fica a 324 quilômetros de Belo Horizonte e a 410 quilômetros de Vitória. Está localizado em uma região estratégica por ter grandes áreas para o plantio de eucalipto. É ligado por ferrovia ao Portocel, especializado em celulose.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 15/07/2008)