Em 1999, sismógrafos detectaram uma abundância de terremotos em um ponto da Cordilheira de Gakkel, uma cadeia montanhosa no meio do oceano que cruza o Ártico. Algumas expedições à área, ao norte da Sibéria e a cerca de 350 milhas do pólo, produziram evidências indiretas de erupções explosivas no solo ao fundo do mar.
Vulcanismo explosivo em tais profundidades é muito incomum, diz Robert A. Sohn da Instituição Oceanográfica de Woods Hole, em Massachusetts. “As pessoas têm medo até mesmo de sugerir isso, porque parecia tão absurdo.”
Vulcões no fundo do mar entram, sim, em erupção violentamente, mas em águas relativamente rasas. O local da Cordilheira Gakkel fica a 4 mil metros de profundidade, e pensava-se que as erupções não poderiam ocorrer tão profundamente por não haver gás em magma suficiente para vencer a imensa pressão.
Então em 2007 Sohn liderou outra expedição até a área, enviando para o fundo um mecanismo artesanal com câmeras de vídeo de alta definição e um dispositivo de amostragem. As descobertas de sua equipe, relatadas em Nature, mostram conclusivamente que ocorreram erupções explosivas.
A prova veio na forma de depósitos recentes de piroclásticos, pequenos pedaços de rocha vulcânica, espalhados por uma área com mais de 10 quilômetros quadrados. Os pesquisadores encontraram até mesmo evidências de “Limu o Pele”, fragmentos do muro de uma bolha de magma estourada. Um mapa da área criado com o uso de sondas mostra o que parecem ser vulcões em forma de crateras, que eram provavelmente os pontos de foco das explosões.
Uma explicação possível, diz Sohn, é que o dióxido de carbono se dissolveu de magma por um longo período, formando uma bolha de gás presa talvez a 8 quilômetros abaixo do fundo do mar. Então os terremotos de 1999 teriam enfraquecido a crosta, permitindo que o gás subisse, se misturasse com magma e “explodisse o topo do solo no fundo do mar”, diz ele.
Sohn diz que o trabalho mostrou o quanto ainda há para ser aprendido sobre o que acontece nas profundas cumeeiras no meio do oceano. Por exemplo, vulcanismo explosivo como este, envolvendo a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono, pode não ser tão raro.
(The New York Times, Ultimo Segundo, 15/07/2008)