O esforço para diminuir a emissão de gases com efeitos de estufa ajudará a abrandar o aumento do nível do mar mas será impossível detê-lo durante séculos, afirma Catia Motta Domingues, climatóloga e neta de portugueses que trabalha na Austrália.
A partir de Hobart, na Tasmânia, a investigadora afirmou à Lusa que "o oceano e os mantos de gelo têm longos tempos de resposta, pelo que, por mais bem sucedidos que agora sejamos a minimizar a emissão de gases com efeitos de estufa, apenas vamos conseguir abrandar o aumento do nível do mar". E sublinha: "Não conseguiremos parar esse aumento durante séculos, pois este deve-se a antigas emissões de gases com efeito de estufa da actividade humana."
Catia Domingues, do Centro Australiano de Investigação sobre o Clima, alerta assim que "teremos que nos adaptar às consequências". Citando o climatólogo Gerald Meehl, a cientista de 36 anos - que nasceu em São Paulo mas vive na Austrália desde 1998 - lembrou que, "mesmo que se mantivessem as emissões de gases ao nível de 2000, os oceanos subiriam cerca de 11 centímetros neste século".
A informação neste domínio tem sido bastante variável, com alguns especialistas a preverem uma subida de 80 centímetros no nível do mar até 2050 e outros a estimarem que esse aumento ocorrerá ao longo dos próximos três séculos, até 2300.
Catia Motta Domingues explica que "a expansão termal dos oceanos é um dos processos que contribui para o aumento do nível do mar observado nas últimas décadas" e para calcular essa expansão é necessário "saber quanto calor se foi acumulando nos oceanos", nomeadamente medindo a temperatura da água a várias profundidades. Depois há que somar outros processos, como "o derretimento dos glaciares, das calotas polares e dos mantos de gelo".
Um estudo recente do Centro Australiano de Investigação sobre o Clima - trabalhando em parceria com outros centros de investigação australianos e dos Estados Unidos, concluiu que, entre 1961 e 2003, o aumento anual do nível do mar foi de 0,53 milímetros, ou seja, praticamente o dobro das estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (conhecido pela sigla inglesa IPCC), que apontava para os 0,32 milímetros por ano.
"Descobrimos que, nas últimas quatro décadas, os oceanos têm absorvido calor, expandido e subido a um ritmo 50 por cento mais rápido do que o relatado pelo IPCC", diz Catia Domingues, revelando que a pesquisa incidiu sobretudo no Índico, Pacífico e Antárctida, circundantes da Austrália.
(Por HELENA SOUSA FREITAS, Lusa, Sapo.pt, 14/07/20080