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etanol alta no preço dos alimentos
2008-07-14

Não faz muito tempo, uma coalizão informal de forças antietanol se lamentava pela ineficácia de sua luta. Depois de fracassar em obstruir um número imenso de novas autorizações no Senado, em dezembro passado, Jay Truitt, até há pouco tempo o principal lobista para a Associação Nacional dos Criadores de Gado (NCBA, na sigla em inglês), queixou-se do "fervor" e do "caráter de devoção" que cercava o etanol em Capitol Hill.

"Não se consegue fazer uma pessoa levar em consideração o fato de que existe uma conseqüência para tais ações", disse, acrescentando, "nós acreditamos que haverá um dia em que as pessoas indagarão, 'por que afinal, nós fizemos isso? '" Esse dia chegou antes que Truitt, ou quase todos os outros, previssem. Claro, grande parte da reviravolta é atribuída aos implacáveis aumentos de preços em supermercados, que levaram muitas pessoas a afirmar que a terra usada para produzir milho deveria, em vez disso, ser usada para produzir alimentos.

Mas a mudança nas opiniões a respeito do etanol recebeu a ajuda de um personagem dos mais improváveis, um economista barbudo e conciliador com um sarcástico senso de humor e conhecimento enciclopédico sobre os profundos segredos da política agrícola norte-americana. Até janeiro, Keith Collins era o antigo e bastante respeitado principal economista do Departamento da Agricultura. Nessa posição, foi freqüentemente um defensor de políticas do governo que estimulavam a produção de biocombustíveis.

Nos meses após sua saída, foi contratado pela Kraft Foods Global para analisar o impacto dos biocombustíveis sobre o preço dos alimentos. E o que ele apresentou foi um chocante e inesperado golpe em seus antigos patrões. A administração Bush dissera que os biocombustíveis eram um fator de pouca importância na alta dos preços de alimentos. Em uma entrevista coletiva no dia 1º de maio, Edward P. Lazear, presidente do Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca, disse: "O principal é que nós acreditamos que o etanol representa algo entre 2% e 3% no aumento global dos preços de alimentos."

Um mês depois, em uma conferência da Organização das Nações Unidas em Roma sobre a crise alimentar, o secretário da Agricultura, Ed Schafer, repetiu a análise de Lazear ao defender a política norte-americana para biocombustíveis. Mas Collins chamou atenção para o fato de a análise do governo ser mais um esboço de cálculo, que não havia levado em conta o impacto dos biocombustíveis sobre outras safras além do milho. A pressão pelo etanol havia levado os produtores a plantarem mais milho e menos de outros produtos agrícolas, um dos fatores que influiu na alta de commodities como o trigo.

Com base em sua própria análise, Collins sustenta que os biocombustíveis causaram aumentos de 23% e 35% nos preços de produtos alimentícios. (O lobby do etanol rejeitou a análise em um estudo afirmando que faltavam dados para comprovar a afirmação da empresa).  "Eu observei um período um tanto quanto mais recente," disse Collins, que não parece estar à vontade no seu papel de "pistoleiro contratado" e age de forma discreta, de forma a não ofender seu antigo patrão. "Eu estava acompanhando um período em que o milho sendo dirigido para o etanol estava em crescimento muito mais rápido do que quando eles o acompanharam."

Sua mudança para a Kraft ocorreu em meio a um esforço agressivo desenvolvido pela Associação dos Fabricantes de Produtos Alimentícios (GMA, na sigla em inglês) para mudar a forma como o etanol era encarado pelas pessoas, enquanto os preços de alimentos estavam altos. A associação contratou o Glover Park Group, uma empresa de relações públicas com conexões na política de Washington para ajudar a desenvolver uma estratégia mais eficiente. Scott Faber, lobista para a Associação dos Fabricantes de Produtos Alimentícios, recusou-se a comentar o assunto.

O Glover Park Group escreveu em sua proposta à associação. "Nós precisamos eliminar qualquer tipo de justificativa intelectual que possa ainda existir para o etanol à base de milho entre as elites políticas." Também recomendou que fossem identificados e recrutados "terceiros que validassem a opinião".

Collins disse não acreditar que sua contratação fizesse parte de uma campanha antietanol. Em vez disso, ele afirmou, foi-lhe simplesmente pedido, pela Kraft Foods, que desse seu depoimento sobre o impacto dos biocombustíveis e ele no final o redigiu um estudo de 34 páginas. Ele também declarou que a reviravolta no debate sobre o etanol teve muito mais a ver com os implacáveis aumentos de preço do que com os estrategistas em relações públicas e os seus comentários. "Os preços elevados são o fator dominante," afirmou Collins. "Sem isso, esta coalizão jamais teria chegado aonde chegou."

No entanto, sua crítica à análise do governo foi atentamente acompanhada por uma análise mais completa do Departamento de Agricultura. Em comentários apresentados a uma subcomissão do Senado no mês passado, Joseph Glauber, o sucessor de Collins, disse que o impacto dos biocombustíveis sobre os preços de alimentos estava na realidade mais próximo dos 10%; a análise anterior havia dado pouca atenção à apuração do impacto dos biocombustíveis sobre a soja, declarou.

Em uma entrevista, Glauber disse que sua análise simplesmente observou um leque mais amplo de pressupostos do que a anterior feita pelo governo; por exemplo, ele incluiu o impacto de biocombustíveis à base de soja sobre preço de alimentos. Embora dizendo que possa ter sido "evasivo" em relação a algumas das pressuposições de Collins, ele disse que as análises eram semelhantes. "Isso serve para mostrar ao público que existem formas diferentes de mostrar tais números," ele disse. "Não acho que tais análises sejam tão diferentes."

Mesmo assim, o representante Jeff Flake, republicano do Arizona, pediu ao inspetor geral do Departamento de Agricultura que investigue por que um erro desses foi cometido e perpetuado. "É lamentável que dois altos funcionários da mesma agência tenham feito tais declarações incompatíveis com base em fatos," observou Flake em uma carta enviada no dia 26 de junho ao inspetor geral, acrescentando que o departamento "precisa ter condições de produzir e divulgar informações claras e precisas, particularmente quando isso se refere à culpabilidade da política dos EUA no aumento explosivo dos preços de produtos alimentícios."

Collins afirmou que seus comentários não estão em contradição com o seu trabalho no Departamento de Agricultura. Na época, disse ele, jamais imaginou que o milho chegaria a US$ 7 o bushel. "Nós esperávamos preços mais elevados para o milho", declarou. "Se alcançássemos os preços previstos - alta para os US$ 3 - todos estariam felizes. O etanol estaria ainda firme em sua rota."

(Por Andrew Martin, NYT, UOL, 14/07/2008)


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