A mineração é uma atividade produtiva que não transcorre sem impactos ambientais, em maior ou menor escala. Porém, salvo se as pessoas desistirem de circular em automóveis (feitos em aço e, este, de ferro) ou de utilizar qualquer produto em alumínio (feito de bauxita) – só para citar dois exemplos -, o fato é que o setor ainda terá porque e como operar ainda por muito tempo, provavelmente para sempre.
Assim, hoje o que a atividade busca é a chamada “mineração responsável”, ou seja, trabalhar para que os danos ambientais sejam reduzidos ao mínimo possível e também para compensá-los da maneira mais eficaz. “A mineração tem uma imagem ruim por erros cometidos no passado. Hoje, é uma Indústria com plantas avançadas e projetos desenvolvidos prevendo os impactos ambientais que toda atividade econômica tem”, disse na sexta-feira passada Roger Agnelli, presidente da Vale, em solenidade na Academia Brasileira de Letras, no centro do Rio de Janeiro.
Recepcionando mais de 50 jornalistas, de todas as regiões do país, ele assinou com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, um termo de compromisso pelo qual a companhia se compromete a vender minério de ferro para produtores de ferro gusa que utilizem em sua cadeira produtiva apenas produtos ambientalmente legais, ou seja, madeira e carvão certificados.
Na prática, a medida favorece os produtores que abraçaram a legalidade e que, até então, enfrentavam a concorrência desleal dos que fizeram opção em sentido contrário – e cujos custos, naturalmente, eram menores.
O melhor de seus efeitos esperados, porém, é a proteção que o compromisso garante à Floresta Amazônica, posto que, em tese, quem extrair madeira ou carvão de maneira ilegal não terá para como vendê-los, ao menos não para as guseiras.
Na mesma solenidade, a Vale lançou o prêmio Brasileiro Imortal, projeto que pretende perpetuar os nomes de seis brasileiros, ao batizar com eles seis novas espécies botânicas, encontradas na Reserva Natural da companhia, em Linhares, no norte do Espírito Santo. São elas: uma espécie de salácia, encontrada pelo professor assistente de Botânica Julio Antonio Lombardi; Machaerum, pelo pesquisador Carlos Victor Mendonça Filho; Vanilla, pelo pesquisador Cláudio Nicoletti, e três novos antúrios (anthurium), descobertos pelo pesquisador Marcus Nadruz.
A escolha dos homenageados será feita por meio de eleição aberta ao público através do site brasileiroimortal, entre candidatos ora sendo escolhidos por uma Comissão de Especialistas – pessoas que atuam na área de sustentabilidade.
Prestação de contas
Participando do evento, Carlos Minc aproveitou a presença da imprensa para fazer um balanço de suas principais ações, decorrido um mês e meio de sua assunção ao cargo de ministro do Meio Ambiente. No estilo que lhe é peculiar, disse que “quem comemorou a saída da ministra Marina Silva, comemorou cedo demais”. “Agora somos dois: eu no Ministério; ela, no Senado”.
Comentou também sua recente queda-de-braço com usineiros de Pernambuco que, segundo Minc, “queimam sem licença, não fazem reservas legais e desrespeitam os direitos dos trabalhadores”. “Levamos o troco, mas isso aí está na cota”, desdenhou. Posteriormente, em entrevista coletiva, AmbienteBrasil perguntou ao ministro se a enorme quantidade de medidas protelatórias, que impedem de chegar aos cofres públicos mais de 90% das multas impostas pelo Ibama aos infratores ambientais, não jogava por terra qualquer eficácia dessa penalidade.
Em resposta, ele antecipou que, no próximo dia 22, o presidente Lula assinará um decreto com 90 artigos, cujo escopo é justamente reduzir prazos e etapas de recursos. Em termos de marketing, a solenidade da Vale teve seu brilho parcialmente obscurecido pelo fato de, no dia anterior, a companhia ter sido multada pelo Ibama em cinco milhões de reais, sob a acusação de estar envolvida em venda ilegal de madeira no Pará. O presidente Roger Agnelli negou a acusação com veemência, reafirmando o que já vinha sendo dito à imprensa.
Bom de mídia, Minc capitalizou o que inicialmente tenderia ao desconforto. Disse que a multa do Ibama atestava a independência entre o Ministério e a Vale que, parceiros naquele momento, não se tornavam, contudo, submissos reciprocamente.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 14/07/2008)
* Mônica Pinto viajou ao Rio de Janeiro a convite da Vale.