Uma crítica frontal às tendências neoliberais no modelo de gerenciamento dos serviços de abastecimento de água e saneamento foi a tônica do discurso do diretor-presidente da Corsan, Dieter Wartchow, no penúltimo dia dos trabalhos preparatórios à Rio+10, nas prévias do 2º Fórum Social Mundial. -A grande mídia nos vende uma forma única de pensar a esse respeito, que é a ótica de que a água deve ser privatizada para que se possa universalizar o acesso a ela, disparou Wartchow, ao lembrar a pressão que vem sendo feita por setores privatizados para a aprovação do projeto de lei federal 4147, que autoriza a transferência da prestação de serviços de água e esgoto par o setor empresarial. -Isso transforma a água em patrimônio de poucos, e sabe-se que a hegemonia política está por trás dessa questão. Wartchow leu trechos de um informativo de uma organização holandesa com claros interesses em investimentos no setor de saneamento brasileiro, caso a privatização se efetive. O boletim, segundo ele, cita textualmente que a empresa tem interesses em ganhar dinheiro no mercado brasileiro de água, explorando a corrupção e a falta de conhecimento vigentes internamente no país. Segundo ele, esse folheto foi distribuído em diversos meios empresariais. Wartchow também denunciou mobilizações do Conselho Mundial de Água, criado pelo Banco Mundial e patrocinado por empresas do Canadá, da França e de outros países desenvolvidos, todas nações ligadas à ONU e que participam do Global Water Partnership, uma espécie de coalizão que reúne interesses em torno da gestão (controle) dos recursos hídricos. Na avaliação do presidente da Corsan, esses interesses se mascaram sob o termo parceria público-privada, que ele considera uma forma dissimulada de apelo à privatização generalizada. -Esse discurso diz que é ao público que cabe o papel de desregulamentar o uso da água, observou, acrescentando que o setor privado quer a desregulamentação porque as atuais leis colocam riscos às suas atividades. -Mas isso é uma contradição, pois, como usuário, este setor também busca investimentos.