Um fenômeno até pouco tempo considerado raro está aumentando a olhos vistos no Ártico, segundo cientistas da área ambiental que trabalham por ali. É o chamado “termocarste”, um desabamento do solo ocorrido pelo derretimento da camada subterrânea de gelo.
“Quando cheguei aqui, em 1985, termocarste era uma coisa da qual os russos falavam. Nunca tínhamos visto um aqui na região”, afirmou ao G1 a pesquisadora Linda Deegan, que trabalha na Estação de Pesquisas de Toolik Lake, no Alasca, Estados Unidos. “De repente, um grupo que voava de helicóptero viu um do alto. Meses depois, achamos outro. Agora eles estão por toda a parte,” diz ela
O solo congelado nas camadas subterrâneas é chamado de “permafrost”. Rico em matéria orgânica, ele abriga um terço de todo o estoque de carbono do mundo - apesar do Ártico corresponder a apenas um sexto do território do planeta.
O permafrost é protegido por um tapete de tundra, a vegetação rasteira típica da região, que reflete parte da luz do sol e mantém as temperaturas mais baixas no subsolo. Quando o termômetro sobe, no entanto, o permafrost derrete e a tundra desaba. O resultado é um buraco no terreno que libera matéria orgânica para as correntes de água e que vai atingir em cheio a vida animal e vegetal.
O grupo em Toolik Lake saiu durante o ano passado para catalogar o número de termocarstes na área. “A expectativa era encontrar cem”, diz Deegan. “Achamos 250.” Entender por que isso acontece é um grande desafio. “Será que o número de termocarstes está realmente aumentando, ou será que nós só começamos a prestar atenção nisso agora?”, questiona o pesquisador especializado no mapeamento dessas implosões de terra, Jason Stuckey.
A principal dificuldade é encontrar os termocarstes, porque a região é inabitada e eles surgem de uma hora para outra. O mais próximo à estação de pesquisas, por exemplo, surgiu há menos de três anos. A única maneira confiável de identificá-los é via satélite.
Os cientistas supõem que o fenômeno está aumentando porque a temperatura no Ártico está mais quente do que nunca. Mas precisam estudar mais. “Não temos nenhum dado de cem anos atrás, então não podemos dizer com 100% de certeza que estão aumentando. Pode ser que tenham tantos quanto havia antes e que os termocarstes do passado se fecharam. Pode ser que esteja diminuindo”, diz Stuckey.
“Mas, pelo que estamos verificando nos nossos estudos iniciais, eles parecem estar ocorrendo em maior freqüência, sim. Se o clima esquentar, podemos ter mais ainda”, afirma.
(Por Marília Juste, G1, AmbienteBrasil, 12/07/2008)