Espalhada em áreas que vão do Nordeste ao Sul do Brasil, a Mata Atlântica é uma das prioridades no que diz respeito às políticas de conservação, tendo inclusive leis específicas para este fim desde 1993. Se antes cobria boa parte do país, hoje se restringe a apenas 7% da área original, segundo dados estimados pela SOS Mata Atlântica. Mas o que fazer para saber qual a forma ideal de preservá-la? Uma das principais medidas é conhecer melhor as florestas remanescentes. Saber como caminha a resiliência da floresta e, acima de tudo, como garanti-la.
É por este motivo que o trabalho de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná vem ganhando destaque em publicações internacionais como a revista de divulgação NewScientist que, no último dia 11, publicou a matéria intitulada "How long does it take a rainforest to regenerate?".
O material é baseado na pesquisa do aluno de mestrado em Botânica, Dieter Liebsch, orientado pelos professores Márcia Marques e Renato Goldenberg, do Laboratório de Ecologia Vegetal do Departamento de Botânica da UFPR. Utilizando dados próprios e também secundários, eles fizeram uma meta-análise gerando modelos matemáticos que permitem estimar o tempo - em anos - que a floresta leva para se recuperar depois de uma interferência humana. Foram analisados dados de 18 florestas do Sul e Sudeste brasileiros, nas quais são registradas mais de 400 espécies de árvores. E os resultados apontaram que, dependendo do parâmetro ecológico utilizado, a floresta se regenera de centenas a milhares de anos, destacando ainda mais a importância da conservação.
Metodologia
"Analisamos quatro diferentes parâmetros de resiliência e vimos que as velocidades de recuperação deles são variáveis", explica Márcia Marques. "Avaliamos: a proporção das espécies que são dispersas pelos animais; a proporção de espécies não pioneiras; a proporção das espécies tolerantes à sombra e, por último, a proporção das espécies endêmicas da Mata Atlântica. Os resultados mostraram que os três primeiros parâmetros levam de 100 a 300 anos para se recuperar, enquanto o quarto pode levar de 1mil a 4mil anos. Ou seja, estamos falando de períodos que variam de centenas a milhares de anos. Cada vez que a floresta sofre um distúrbio, o processo começa novamente. A magnitude do problema é muito maior do que se pensava", alerta.
A professora explica que alguns estudos já feitos por outros pesquisadores abordaram liminarmente o tema, mas a pesquisa da UFPR ganha destaque porque pela primeira vez está sendo utilizado um modelo matemático para calcular o tempo de recuperação das florestas. "Se não prestarmos atenção nestes prazos e continuarmos com os níveis atuais de devastação da Mata Atlântica, no futuro teremos apenas representantes de uma floresta completamente descaracterizada", comenta. "Todas as florestas tropicais estão ameaçadas em algum nível.
Mas a Mata Atlântica, que vai do Nordeste ao Sul do Brasil, é aquela onde está concentrada a maior faixa de população do País e, portanto, sofrendo maior pressão. É na área de ocorrência da Mata Atlântica que estão cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Por isso dados como estes que levantamos são tão importantes. Para que se possa, nas instâncias decisórias, planejar melhor a política de conservação do que ainda resta da desta floresta", conclui.
(UFPR, Rede de ONGs da Mata Atlântica, 10/07/2008)