O Observatório Regional de Segurança Alimentar e Nutrição - Observatório da Fome - apresentou o primeiro boletim bimestral sobre a situação alimentar na América Latina e no Caribe. Ação promovida pelo Escritório Regional da FAO no âmbito da Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome, o relatório apresenta aos tomadores de decisão e à opinião pública informações atualizadas sobre o estado dos mercados e das políticas agroalimentares em âmbito internacional e regional.
De acordo com o boletim, o incerto panorama internacional de 2008 começa a refletir na inflação e pode diminuir o crescimento econômico dos países da América Latina e Caribe. Os números mostram como os preços dos alimentos influenciaram a inflação regional. Em 2007, os índices de preços subiram 6,3%, cerca de 1% a mais que em 2006. Considerando 16 economias da região, a inflação média acumulada em 2008 está em torno de 5% e a inflação de alimentos em 7,2%.
A variação nos últimos 12 meses nos índices de preços é de 11,1% (geral) e 17,5% (alimentos). Em países como Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Panamá, Peru e Venezuela a inflação dos alimentos acumulada em 2008 supera a inflação geral em pelo menos dois pontos percentuais.
A alta dos preços dos alimentos possui causas variadas de acordo com o boletim. Entre elas, estão: rápido crescimento dos países em desenvolvimento, a produção de biocombustíveis, fatores climáticos que afetam a produção, o aumento dos custos de insumos agrícolas por causa dos elevados preços do petróleo, a redução das reservas de alimentos, a especulação nos mercados financeiros e de commodities e a implantação de políticas para restringir exportações de alimentos.
O informe traz um ponto positivo para a região. A América Latina e o Caribe estão mais preparados para enfrentar choques econômicos que no passado por causa de fatores como os superávits em conta corrente, finanças públicas mais ordenadas, menores dívidas pública e externa e maiores reservas internacionais. A região responde por 8% do total da produção mundial de cereais, com maior concentração para a América do Sul.
O destaque vai para a rapidez com a qual a região tem aumentado a produção de alimentos, principalmente a partir do início da década, com uma taxa de crescimento da produção líquida per capita superior à média mundial e dos países desenvolvidos. Os países mais afetados pela alta dos preços são os de baixa renda e deficitários em alimentos, como Haiti, Honduras e Nicarágua.
O boletim ressalta também os avanços na implementação de políticas públicas realizadas por agências governamentais no abastecimento alimentar. Nessa linha, são mencionados, como exemplo, os programas de compras públicas de produtos agrícolas de pequenos agricultores para sua posterior distribuição nas redes de alimentação social, como ocorre no Brasil e no Panamá.
Também são citados os dispositivos de abastecimento de alimentos para a população, existentes no Peru, Bolívia, Equador, Brasil, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Panamá, Nicarágua, Venezuela e Uruguai. Outras políticas como a gestão pública de reservas estratégicas de alguns alimentos básicos, realizada no Brasil, Honduras, Equador e México, também são elogiadas apesar de sua pequena extensão.
O boletim completo do Observatório da Fome na América Latina e Caribe está disponível, em espanhol, aqui.
(Adital, 10/07/2008)