A crise dos alimentos que atinge hoje todo o mundo já era prevista pelos camponeses. Isso porque a agricultura comercial, o conhecido agronegócio, nunca atendeu a demanda da população por comida. Para a agricultora e integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Maria Cazé, prova disso são os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que mostram que o camponês responde por 70% do abastecimento do mercado interno brasileiro.
Maria Cazé defende que para produzir alimentos variados é preciso ter gente no campo, o que não é possível com o modelo de monocultura para exportação e de uma agricultura altamente mecanizada. Com a expansão do agronegócio, muitos pequenos produtores têm deixado a agricultura.
Além dos alimentos, a camponesa responsabiliza o agronegócio por outras três crises: a da energia, do meio ambiente e a social. “Toda a agricultura comercial é petrodependente, ou seja, baseada no petróleo. E com o aumento dos preços, aumentam todos os custos desta agricultura. A outra crise é ambiental, já que o agronegócio suga os recursos naturais, e deixa a terra simplesmente estéril. É impossível produzir comida, gerar renda e trabalho, se não tem mais disponível os recursos naturais. E a outra crise é a de valores, porque temos relatos de exploração no campo, o trabalho escravo”, diz.
Maria Cazé participa do Seminário Nacional da Agricultura Camponesa, que ocorre até esta sexta-feira (10) no salão de atos da Universidade Regional Integrada, no campus de Frederico Westphalen, no Noroeste gaúcho. Cerca de 300 agricultores de 17 estados debatem a proposta de valorizar a pequena agricultura como política para combater a crise dos alimentos e da energia.
Em Junho, o MPA, juntamente com a Via Campesina, entregou um documento ao governo federal em que constam propostas estruturantes para desenvolver a pequena agricultura. Entre as sugestões, está mais investimento em uma mecanização apropriada para o camponês e na estruturação de agroindústrias. “Em Junho, nós entregamos no Palácio do Planalto a nossa proposta de programas estruturantes para a produção de comida, que vai desde as agroindústrias, insumos, tecnologia apropriada e moradia. São várias questões que estão dentro de uma proposta viável, possível e barata. Certamente não utilizará nem os R$ 60 bi que o governo federal destinou para a agricultura empresarial”, diz Maria Cazé.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 10/07/2008)