Os arrecifes de coral têm de ser ajudados se quisermos que sobrevivam à mudança climática, mas sua sobrevivência depende de importantes reduções nas emissões de dióxido de carbono, alertaram especialistas. “Ouviremos muitas notícias ruins sobre os corais nas próximas décadas”, alertou esta semana Rich Aronson, presidente da Sociedade Internacional para os Estudos de Arrecifes, a três mil cientistas, conservacionistas e políticos reunidos no 11º Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Coral, que começou segunda-feira e vai até o dia 11 em Fort Lauderdale, no Estado da Flórida (EUA).
A mudança climática deixa o oceano muito quente e ácido para que a maior parte das espécies coralinas sobrevivam além de 2050, afirmam agora muitos cientistas marinhos. “A situação é seria ao ponto do desespero”, disse Aronson à IPS em uma entrevista. As emissões pesadas e presentes de dióxido de carbono a partir da queima de combustíveis fósseis já alteraram os oceanos, causando reduções dos corais em muitas áreas. Esta tendência continuará durante décadas, mesmo quando for possível eliminar todas as emissões que temos hoje, dizem os cientistas.
“Este é um momento decisivo. Devemos agir forte e imediatamente se quisermos ter arrecifes de coral tal como os conhecemos”, disse Aronson. Como ele, outros pedem urgência na concretização de importantes reduções nas emissões de carbono, proteção dos arrecifes da pesca excessiva, da contaminação e de outras ameaças e ajudar os corais a serem mais resistentes para suportarem melhor as condições mutantes. Este último agirá como uma espécie de sistema de apoio vital até que a comunidade mundial em ter em acordo para reduzir fortemente as emissões de carbono.
Isso pode dar aos corais o tempo que precisam para se adaptarem a um oceano que mudou. Atualmente, as modificações ocorrem muito rapidamente para que as espécies se adaptem, afirmaram os especialistas reunidos em Fort Lauderdale. Os arrecifes de coram mantêm entre 25% e 33% das criaturas viventes dos oceanos. Cerca de um bilhão de pessoas dependem direta e indiretamente dos arrecifes para sobreviver. Os pássaros marinhos e muitas espécies de peixes serão afetadas pela perda de arrecifes.
De modo surpreendente, a maioria dos cientistas apontou a pesca em excesso como a maior ameaça para os corais faz apenas quatro anos, no último Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Coral, disse Joan Kleypas, do Centro Nacional para as Pesquisas Atmosféricas em Boulder, no Colorado, durante o simpósio. Nos quatro anos transcorridos aconteceram muitas pesquisas sobre impactos da mudança climática sobre os oceanos, e agora isso convenceu quase todos os especialistas de que é, de longe, a maior ameaça para os oceanos.
A maioria dos corais começa a morrer quando a temperatura dos oceanos aumenta mais de dois graus, e é provável que isso ocorra em quase todos os cenários futguros de emissões de carbono ates de 2100. Detalhados modelos informatizados mostram que todos os corais sofrerão uma severa descoloração entre um e cinco anos. Se as emissões diminuírem rapidamente na próxima década e se os corais forem mais resistentes ao aquecimento dos oceanos, então haverá esperança, segundo uma pesquisa recente.
Há algumas evidências de que alguns corais podem sobreviver a certo aumento das temperaturas oceânicas, mas não existe nenhuma solução para a acidez, disse Kleypas. Os oceanos absorvem naturalmente o carbono da atmosfera, mas devido às emissões humanas absorvem cada vez mais. Este carbono adicional alterou a composição química dos oceanos, deixando-os de 25% a 30% mais ácidos. A cada dia os oceanos absorvem 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono, aumentando gradual e inevitavelmente sua acidez, e deixando menos carbonato de cálcio na água para que os corais e espécies como o fitoiplâncton cresçam ou mantenham seus esqueletos.
“A acidez afeta todas as espécies marinhas, não apenas os corais”, disse Kleypoas. Mas, se investigou pouco para compreender especificamente quais podem ser esses efeitos. Klaypoas admitiu que parece impossível salvar os corais, mas não perde as esperanças. “Precisamos manter estáveis os níveis de dióxido de carbono e os corais poderão ficar bem”, afirmou. Há informação suficiente sobre como reduzir as emissões de carbono e inclusive uma consciência cada vez maior sobre o fato de essa redução não ser cara em termos econômicos, disse Aronson.
Proteger os arrecifes de outras ameaças como a pesca em excesso e a contaminação não é difícil, mas exige uma liderança política. Salvar os corais tem de ser um esforço internacional dirigido pela Organização das Nações Unidas. “Nós, os cientistas, temos de ser pragmáticos e inteligentes em matéria de política. Todos nós – cientistas, conservacionistas e público – temos que nos levantar e lutar para proteger os corais”, disse Aronson.
(Por Stephen Leahy, Envolverde, IPS, 09/07/2008)