Com pompa e circunstância, o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, anunciou segunda-feira na abertura da reunião anual do G8, no Japão, que os países industrializados têm que reduzir suas emissões de C02 pela metade em 2050. Parece um número e tanto, mas nada mais é do que outra estratégia dos países ricos para minar as negociações sobre mudanças climáticas lideradas pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O Greenpeace está pressionando o G8 para que os países industrializados assumam a liderança e se comprometam a cortar 30% das emissões até 2020 e de 80% a 90%, até 2050, em relação aos níveis de 1990.
"Enquanto as geleiras no Ártico estão derretendo, o G8 está adiando as medidas reais de redução das emissões. Com esse anúncio de reduzir em 50% em 2050, os líderes dos países desenvolvidos deram ao mundo nada mais do que belas palavras. Nesse ritmo, nós não teremos tempo de evitar o caos que será provocado pelas mudanças climáticas", afirma Daniel Mittler, especialista em clima do Greenpeace Internacional.
"Os anos 2050 serão um pesadelo se o mundo não fizer uma revolução energética baseada em fontes renováveis e no aumento da eficiência. O homem do petróleo texano, no entanto, conseguiu postergar as ações que o mundo precisa", completa Mittler.
O pacote de maldades não pára por aí. Nesta terça-feira, os Estados Unidos farão uma proposta 'pra lá' de indecente, que tem o claro objetivo de atrapalhar os acordos que já estão sendo encaminhados. Eles querem promover uma reunião com as maiores potências do mundo, sem a participação dos pequenos países que já estão sendo afetados pelos efeitos das mudanças climáticas.
"Aqueles que já carregam o fardo da mudança do clima hoje devem ter sempre um lugar à mesa, especialmente os países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. Excluir os mais vulneráveis não é maneira de contribuir para um significativo e verdadeiro acordo global em Copenhague em 2009", completou Mittler.
Carvão não é solução
Enquanto jogam para a platéia, o G8 continua fomentando as mudanças climáticas. Por exemplo: o Fundo de Investimento do Banco Mundial para o Clima, anunciado pelo G8, não exclui o carvão como fonte energética. E o carvão é hoje a maior fonte de poluição do setor de energia. "É um passo na direção errada. A única boa notícia do encontro é que essa é a última vez que Bush participa dele", afirmou Mittler.
Para o Greenpeace, não se trata apenas de mera discussão sobre a porcentagem correta. Estamos falando aqui de compromissos que garantirão a nossa sobrevivência. As Nações Unidas têm de entregar um plano de ação destinado a salvar o planeta em Copenhague, em 2009. O mundo está assistindo ao encontro do G8 e aqueles que diariamente já sentiram os impactos das alterações climáticas estão esperando uma ação decisiva.
"A estratégia dos Estados Unidos é arrastar as discussões para fora do âmbito da ONU. Mas o fórum adequado para esse tipo de discussão é a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, não a reunião do G8”, afirma Luis Henrique Piva, coordenador da campanha de Clima do Greenpeace Brasil.
"O Brasil tem o dever de cobrar dos Estados Unidos uma postura alinhada com as necessidades urgentes do mundo e ratificar o Protocolo de Kyoto imediatamente. Além disso, o Brasil deve fazer sua lição de casa e desenvolver seu Plano Nacional sobre Mudança do Clima, com o estabelecimento de metas - ainda que nacionais -, de redução de emissões de forma clara e efetiva no campo do desmatamento e da energia”, avalia Piva.
(Envolverde/Greenpeace, 09/07/2008)