A área de recifes de coral entre a Bahia e o Espírito Santo pode ter o dobro do tamanho até então considerado pela ciência. A barreira de corais, antes desconhecida em Abrolhos, foi descoberta em um estudo desenvolvido pela Conservação Internacional, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Além dos recifes de corais, a pesquisa aponta ainda para a existência de outros ambientes marinhos na região, além de demonstrar que parcela destas novas áreas apresenta abundância de vida marinha muito superior, quando comparada aos recifes anteriormente conhecidos e melhor estudados.
Os resultados da pesquisa “Mapping marine habitats in the largest reef área of Southern Atlantic: the Abrolhos Bank, Brazil”, foram apresentados nesta terça-feira (8), no 11 Simpósio Internacional dos Recifes de Coral na Flórida (EUA), e segundo os cientistas, apontam para a necessidade de uma rede de áreas marinhas protegidas que contemple outros ambientes ainda não protegidos na região.
O Banco de Abrolhos se estende da foz do Rio Doce até a foz do Rio Jequitinhonha, na Bahia. Além desta área protegida dentro do Estado, há ainda um Projeto de Lei parado na Casa Civil, em Brasília, aguardando decisão sobre a criação de duas Unidades de Conservação Marinha no Estado. São elas o Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz e a Área de Proteção Ambiental (APA) das Algas, ambas no norte do Estado. Contra a criação das áreas, lutam as grandes poluidoras capixabas, representadas pela ONG Movimento Espírito Santo em Ação.
A expectativa dos ambientalistas é que com as novas descobertas o Estado se conscientize da importância de preservar suas áreas marinhas. O estudo mapeou ambientes recifais em todo o Banco de Abrolhos, de 20 a 70 metros de profundidade, com uma biomassa de peixes 30 vezes maiores do que nos recifes mais rasos até então conhecidos.
Na prática, demonstra ainda que mesmo na região do Banco de Abrolhos, onde há o maior e mais rico banco de corais do Atlântico Sul, apenas uma pequena parte dos habitats marinhos é conhecida e protegida por lei.
As descobertas foram uma surpresa para os cientistas, que não esperavam encontrar o grande número de estruturas recifais na região e que já divulgaram que irão checar a vida marinha associada a estas estruturas, para entender melhor a importância de conservar a região.
Eles alertaram ainda para a importância da conservação da região. Segundo a Conservação Internacional, apesar do isolamento e do fato de ainda não serem cartografados, esses recifes vêm sendo descobertos e explorados por barcos pesqueiros cada vez maiores e mais bem equipados, com sonares e equipamentos de localização por satélite.
Na última semana, um outro estudo apontou que a conservação da região aumentou o estoque de peixes de valor comercial no Banco de Abrolhos, mas que, em contrapartida, a preservação do atual conjunto do Banco não é suficiente para a conservação das espécies.
Os estudos realizados fazem parte do Programa de Ciência Aplicada ao Manejo de Áreas Marinhas Protegidas, coordenado pela Conservação Internacional, com a participação de várias instituições de pesquisa do País e em outras três regiões no mundo.
São responsáveis o diretor do Programa Marinho da Conservação Internacional, Guilherme Fraga Dutra; o coordenador do Programa Marine Management Área Science (MMAS), no Brasil, Rodrigo Leão de Moura; o professor da Universidade Estadual da Paraíba e bolsista do Programa MMAS, Ronaldo Bastos Francini-Filho; o professor da Ufes e bolsista da MMAS, Daniel Andreas Klein; o professor e coordenador do Laboratório de Oceonografia Geológica da Ufes, Alex Cardoso Bastos; o analista da Conservation Internacional John Musinsky, e Ruy Kikuchi do Laboratório de Estudos Costeiros da Ufba.
O Banco de Abrolhos é um alargamento da plataforma continental que começa próximo à foz do Rio Doce, no Espírito Santo, e segue até a foz do Rio Jequitinhonha, na Bahia. Com cerca de 46 mil km2, compreende um mosaico de ambientes marinhos e costeiros margeados por remanescentes da mata atlântica, abrangendo recifes de coral, bancos de algas, manguezais, praias e restingas.
A região concentra a maior biodiversidade marinha conhecida no Atlântico Sul, abrigando várias espécies endêmicas, como o coral-cérebro, e espécies ameaçadas de extinção. Berçário das baleias-jubarte, a região dos Abrolhos foi declarada em 2002, área de Extrema Importância Biológica pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 10/07/2008)