Organizações não governamentais e mídia européia consideram os resultados do encontro de cúpula do G8 no Japão insuficientes para combater os males do mundo. Merkel e Bush, no entanto, são de outra opinião. No encontro de cúpula de três dias que se encerrou nesta quarta-feira (09/07) em Toyako, no Japão, os países do G8 – grupo dos principais países industrializados e a Rússia – concordaram com uma série de medidas em torno do clima, energia, alimentos, entre outros, que deverão ser implementadas em curto ou longo prazo.
ONGs e imprensa européia criticaram os resultados do encontro como insuficientes na luta contra as mudanças climáticas, explosão dos preços dos alimentos e aumento da pobreza no mundo. A organização de ajuda humanitária Oxfam afirmou que a resolução de tais questões estaria para além das capacidades do G8. Em entrevista a uma emissora alemã de televisão, o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o teuto-brasileiro Achim Steiner, classificou como "desilusão" as resoluções do G8 na área de medidas de proteção climática.
No entanto, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, considerou o encontro no Japão "um sucesso" e, apesar das críticas, o presidente americano George W. Bush qualificou os resultados da cúpula do G8 como "muito produtivos".
Decisões do G8 no Japão
Em matéria de clima, os países do G8 concordaram em reduzir pela metade a emissão de gases-estufa até 2050. Até a conferência do clima em Copenhague, em 2009, os países emergentes do G5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) deverão ser incluídos na resolução. Quanto à energia, o grupo dos países do G8 pretende tomar medidas para impedir que a alta recorde do preço do petróleo afete a economia mundial. Entre estas medidas estão o aumento da capacidade de produção e a melhoria da eficiência energética.
Além do petróleo, o grupo dos principais países industrializados e a Rússia querem evitar que o aumento do preço dos alimentos e das matérias-primas prejudique a economia mundial e, sobretudo, os países mais pobres. Uma "parceria global" ficou combinada. Ainda deverá ser analisado se faz sentido o estabelecimento de uma reserva internacional de alimentos.
Quanto à política de energia atômica, a declaração final do G8 considerou a posição alemã de desistência da energia nuclear. A resolução evitou qualquer tipo de sugestão para o correto mix energético. Na declaração Iniciativa do G8 sobre Infraestrutura da Energia Nuclear está escrito que "existe um número crescente de países no mundo" com o interesse de expansão da energia nuclear.
Os países do G8 declararam luta à proliferação de armas nucleares. Também com vistas ao programa nuclear iraniano, ficou decidido tentar-se resolver o conflito de forma diplomática. A questão do Zimbábue, a ajuda à África, o combate ao terrorismo e às doenças infecciosas em países em desenvolvimento também estiveram na agenda do encontro de cúpula dos países do G8 em Toyako.
Posições dos países emergentes
Com vistas à obtenção de um sistema internacional de comércio "justo, aberto, racional e não discriminador", os países emergentes presentes à conferência exigiram, principalmente dos países do G8, o fim das barreiras comerciais e dos subsídios agrícolas.
No final do encontro no Japão, os países emergentes deixaram claro que a proteção climática custará bilhões ao G8, porque os emergentes não têm, no momento, nem dinheiro nem tecnologia para combater o aquecimento global, cujos principais culpados são, segundo os emergentes, as potências econômicas mundiais.
Na declaração da seção final do encontro, os países emergentes afirmaram que, somente no contexto de suas possibilidades, eles poderão participar em um novo tratado de proteção do clima. As negociações para tal deverão começar no final de 2009, em Copenhague, sob a égide das Nações Unidas.
Merkel e Bush
Segundo a chefe de governo alemã, Angela Merkel, "em relação ao que conseguimos no ano passado, avançamos realmente um passo à frente em termos de proteção climática". Merkel afirmou, no final da cúpula, que "fica evidente que o grupo G8 sozinho não é mais capaz de abarcar muitos dos problemas", por esta razão, é importante estimular a aproximação com os países do G5.
Principalmente em relação ao clima, o presidente norte-americano George W. Bush considerou os resultados do encontro no Japão "muito produtivos", com vistas a uma atitude conjunta quanto à questão climática. O presidente americano afirmou que será decisivo o desenvolvimento de novas tecnologias energéticas não poluentes. Bush, que deixará a Casa Branca no início de 2009, afirmou ainda que o encontro do G8 contribuiu para uma coesão em torno das Rodadas Doha.
ONGs e ONU
Organizações de proteção ambiental como o WWF e o Greenpeace criticaram as resoluções climáticas do encontro do G8 no Japão. Para as organizações, o grupo do G8 teria se esquivado de sua responsabilidade na luta contra as mudanças climáticas. Com 62% das emissões de CO2 na atmosfera, os países do G8 seriam os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas e representariam a maior parte do problema, reclamaram as organizações.
O WWF criticou o não-reconhecimento desta responsabilidade por parte dos países do G8. Para o Greenpeace, enquanto não se estabelecer um ano de referência, o anúncio de corte pela metade da emissão de gases-estufa se tornaria gratuito. O diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, declarou à emissora alemã ZDF que a redução pela metade da emissão de CO2 até 2050 não seria suficiente. Devido à sua responsabilidade, ele afirmou ter esperado um sinal mais forte dos países do G8. Steiner considerou o reconhecimento oficial da meta pelos EUA como um aspecto positivo do encontro.
Imprensa européia
Sobre o encontro do G8, o jornal britânico The Independent comentou: "Os chefes da conferência do G8 podem estabelecer tantas metas em longo prazo quanto quiserem. (...) Qualquer documento do encontro de cúpula não é nada mais do que uma bolha de sabão". O diário italiano Corriere della Sera escreveu: "Já há alguns anos, o encontro de cúpula do G8 se movimenta em câmara lenta. Em relação às muitas crises globais, isto já é alguma coisa, porque eles não fazem nenhum retrocesso".
Para o jornal conservador francês Le Figaro, "os mais poderosos deste mundo não tiveram respostas para a explosão de preço do petróleo e dos alimentos, para a crise financeira e por último também para o aquecimento global. Para todos estes temas (...) o encontro de cúpula dos países do G8 mostrou a impotência das principais nações industriais". E quanto às declarações dos chefes de Estado e governo presentes no encontro, o Tages-Anzeiger de Zurique afirmou: "Atualmente, os políticos estão treinados a declararem como sucesso até mesmo os menores progressos na política climática mundial".
(DW, 09/07/2008)