A energia nuclear é vista hoje como fórmula milagrosa para mudanças climáticas e crise de combustíveis. Como ficou claro no encontro do G8, a desistência alemã da energia atômica é praticamente impossível de justificar. A França planeja uma, os EUA querem construir 11, a China espera erigir até mesmo 24 novas usinas atômicas. Enquanto no resto do mundo a energia nuclear vivencia uma volta inesperada, os 17 reatores que restam na Alemanha devem ser desligados até 2021, segundo a lei alemã de desistência da energia nuclear.
Com a explosão de preços dos combustíveis, o investimento em novos reatores tornou-se rentável. A energia nuclear também parece oferecer uma solução saudável para o problema do clima. Para cada quilowatt/hora de energia atômica, são produzidos 32 gramas de CO2 – mesmo as mais modernas usinas a gás emitem mais que dez vezes esta quantia. Estes valores dão asas à imaginação dos defensores da energia atômica em todo o mundo.
Com uma dispendiosa campanha publicitária, os lobistas alemães da energia nuclear se apresentaram como "ativistas climáticos malquistos" e, como Bernd Artz do Fórum Atômico, declararam que "a energia atômica evita a emissão anual de cada centésimo qüinquagésimo milhão de CO2. Isto equivale à emissão da completa frota de automóveis da Alemanha".
Prolongar e expandir
Tais argumentos fazem com que países críticos da produção de energia atômica, como a Suécia, expandam substancialmente antigas usinas nucleares. Outros países como Japão, França ou Países Baixos prolongaram o tempo de funcionamento de suas usinas atômicas de 40 para 60 anos ou pensam em fazê-lo.
Prolongar e expandir – uma estratégia que não é suficiente para países com alta demanda energética como os EUA. No país com a maior quantidade de usinas nucleares, 11 reatores adicionais estão em fase de planejamento. O candidato republicano à presidência, John McCain, pretende até mesmo construir 45 novas usinas atômicas.
No Reino Unido, a situação não é diferente. No país, pelo menos 20 novos reatores devem entrar em funcionamento, o primeiro já em 2018. Segundo o premiê britânico, Gordon Brown, "para onde se olha – China, Índia, e muitos países da Europa – por todos os lugares são planejadas novas usinas nucleares ou são substituídas velhas instalações. Nós também estamos convencidos que devemos substituir nossos reatores e estamos levando estes planos adiante".
Até mesmo a Rússia aposta na energia atômica
Como as novas potências econômicas Índia e China não conseguem suprir, nem de longe, sua demanda energética com recursos próprios, elas apostam na energia do átomo. A China pretende elevar de 11 para 40 seu número de reatores. Até mesmo a Rússia – ainda que rica em petróleo e gás natural – almeja construir 35 novos reatores.
É questionável se todas as usinas planejadas serão mesmo construídas. As estatísticas também consideram "usinas em construção" as que – como no caso do Irã – começaram a ser construídas há vários anos e não se sabe quando serão terminadas. Além disso, há no mundo poucas grandes empresas capazes de construir usinas atômicas – e estas, por falta de capacidade, não aceitam mais encomendas para os próximos anos.
Energia atômica não evita mudanças climáticas
E mesmo que todas as usinas nucleares planejadas entrem em funcionamento – o problema climático não estará nem mesmo próximo de ser resolvido, afirmou Torben Becker da Bund, organização alemã de proteção à natureza. Becker acresceu que a energia atômica cobre somente 3% do consumo energético atual e que "isto mostra que sua importância é muito pequena. Se quisermos fazer com que esta aumente, temos que empreender um programa absurdo de expansão na ordem de até mil usinas atômicas – o que não é possível de impor de forma técnica, nem econômica, tampouco política".
Na Alemanha, mesmo assim, deter-se em um "não" categórico à energia nuclear não será fácil para o Partido Social Democrata (SPD), que deliberou a desistência da energia atômica oito anos atrás, pois cresce a pressão interna. Pesquisas de opinião pública apontam que atualmente 44% dos alemães se posicionam contra a desistência da energia nuclear, um número que há muito tempo não era tão alto. É cada vez mais provável que, no mínimo, o tempo de funcionamento das usinas atômicas existentes no país seja prolongado.
(Por Manfred Götzke, Deutsche Welle, 09/07/2008)