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aracruz/vcp/fibria
2008-07-09
A Aracruz Celulose não devolveu terras aos índios capixabas por favor. E ainda terá que devolver as terras dos quilombolas.  A afirmação é do ambientalista Freddy Montenegro Guimarães, ao analisar afirmação do norueguês Erling Sven Lorentzen ao jornal Valor, de que a empresa transferiu terras “para os índios”. A entrevista foi publicada nesta terça-feira (8).

Toda a página B6 da edição de Valor é dada ao norueguês. Na edição online o título é “Fundador da Aracruz já tem sucessor”. No texto de abertura diz: “O norueguês Erling Lorentzen, de 85 anos, é um dos ícones da indústria brasileira. Fundador da Aracruz e um dos controladores da empresa, Lorentzen ainda vai diariamente ao escritório do grupo, no Rio. Lorentzen, da Aracruz, responde a críticas sobre ‘deserto verde’ com plano na mata atlântica”.

Na edição impressa o jornal tem como mote uma possível fusão da Aracruz com outras empresas do setor. O espaço é usado para enaltecer a figura do empresário norueguês, e destaca a transferência de suas funções ao filho Haakon no grupo econômico da família, quando completou 80 anos.

Freddy Guimarães analisa que na questão das terras indígenas não houve nenhum favor da transnacional Aracruz Celulose, que ocupou e explorou as terras, e tinha que devolvê-las por força de lei. Da mesma maneira entende que os territórios quilombolas devem ser devolvidos, pois os negros têm direitos às terras que ocuparam por séculos.

Lorentzen também diz que os eucaliptais não formam o chamado Deserto Verde. Freddy Guimarães, presidente da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), a mais antiga ONG ambientalista do Estado, diz que a afirmação do norueguês não é correta. Sobre o Deserto Verde formado pelos plantios, o ambientalista diz que os eucaliptais são “tragédia em andamento”.

Uma outra lembrança do ambientalista é que a Aracruz Celulose recebeu “um tremendo suporte” dos governos durante a sua formação. Os governos deram à empresa terras, e continuam dando isenções de impostos, entre outros favores.

Erling Lorentzen é casado com a princesa Ragnhild, irmã do rei da Noruega, Harald V. Seu grupo econômico tem participação de 28% na Aracruz Celulose. E ainda o controle acionário (com 70% das ações) na empresa de navegação Norsul e 10% na Ideiasnet.

Só a Aracruz Celulose tem um valor de mercado de US$ 7 a 8 bilhões, como diz o norueguês. Na entrevista ao Valor, Lorentzen afirma que vai recuperar a mata atlântica na Bahia e o Rio Doce. Com 55 anos no Brasil, o empresário passa suas férias anuais na Noruega. Lá, aproveita o verão com atividades como velejar no seu barco Saga, como diz a reportagem do Valor.

História de violência - No seu processo de implantação, a Aracruz Celulose derrubou, só no Espírito Santo, 50 mil hectares de mata atlântica, destruindo toda a sua biodiversidade.

Usa, até hoje, as chamadas capinas químicas - um coquetel de agrotóxicos, com predominância de herbicidas e formicidas - nos eucaliptais. Os venenos contaminam a terra, a água, a fauna e a flora. E matam os poucos moradores que resistiram em pequenas propriedades em meio aos eucaliptais.

Erling Sven Lorentzen Lorentzen conseguiu seu intento no Brasil aliando-se às mais altas figuras da ditadura militar, como o general-presidente da República Ernesto Geisel. Como dos representantes dos militares no Espírito Santo, os governadores biônicos (não eleitos pelo povo e nomeados pelo governo federal) Arthur Carlos Gerhardt Santos e Cristiano Dias Lopes. Gerhardt começou a preparar o terreno para o domínio da Aracruz Celulose, fundada em abril de 1972.

Arthur Carlos, à frente do Banco de Desenvolvimento do Estado, atual Bandes, no governo Christiano Dias Lopes Filho (final dos anos 60), foi quem fez toda a trama para entregar grande parte do território capixaba à Aracruz Celulose. A preço praticamente simbólico, as terras públicas ou assim consideradas pelo governo arbitrário foram vendidas a 10 décimos de centavos o metro quadrado (a moeda, da época, era ainda o cruzeiro).

Na fase de implantação da empresa, o processo de ocupação do território indígena foi comandando pelo major PM Orlando Cavalcante, que pertencia ao Sindicato do Crime. O major era temido por torturar, antes de matar suas vítimas, e sua atuação foi também contra posseiros que ocupavam parte das terras indígenas no município de Aracruz.

Dos índios, a Aracruz Celulose tomou mais de 40 mil hectares de terras. O próprio governo federal, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), reconheceu como terras indígenas 18.027 hectares e a empresa foi obrigada a devolver as terras.

A mão de ferro dos Lorentzen empregou mão-de-obra bandida também para tomar terras dos quilombolas: usou como seu principal testa-de-ferro o tenente Merçon, do Exército. No máximo, o militar consentia em pagar valores irrisórios aos que resistiam.

Os negros então foram forçados a abandonar cerca de 50 mil hectares em todo o Estado em favor da empresa. Vieram depois os plantios de eucalipto e a destruição ambiental em todo o território quilombola.

A Aracruz também ocupou terras devolutas, que por lei devem ser destinadas à reforma agrária. Ainda mantém em seu poder a fazenda Agril, por exemplo.

A norma da Aracruz Celulose desde sua fundação, há 40 anos, com apoio da ditadura militar, é promover a ampliação de seus negócios com recursos públicos. Um dos presentes do governo federal foi o Portocel, especializado em celulose, construído com dinheiro público e praticamente doado à empresa.

Na expansão de seus domínios, a meta da Aracruz Celulose é a construção de uma fábrica em Governador Valadares. Ambientalistas e agricultores lembram que serão necessários cerca de 100 mil hectares de novos plantios de eucalipto, que vão completar a destruição do Rio Doce. A empresa está recebendo todo o apoio do governador mineiro Aécio Neves para se instalar em Valadares.

A transnacional Aracruz Celulose é uma das maiores beneficiadas pelas regalias fiscais do governo Paulo Hartung. Fechou o primeiro semestre de 2008 com um lucro de R$ 430 milhões no de 2008. Desse total, somente com as operações resultantes da venda dos créditos fiscais, ela embolsou R$ 40,9 milhões.

A influência destes créditos na atuação da empresa é tão significativa que 10% de tudo que a transnacional lucra vem desses créditos. O mix de incentivos é variado, indo da venda com deságio para devedores de ICMS até as isenções na compra de equipamentos.

A contrapartida para tais benefícios revela um esquema que mantém a posição hegemônica dos políticos no poder: a empresa financia as campanhas eleitorais dos políticos em todos os níveis da República.

(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 09/07/2008) 

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