O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) realizam na próxima quarta-feira (16), uma reunião para apresentação da pesquisa sobre os efeitos dos poluentes da ArcelorMittal Tubarão sobre a saúde da população da Grande Vitória. O estudo é uma condicionante para a Licença de Operação da empresa.
Realizado pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp), e será apresentado pela ArcelorMittal Tubarão, o estudo cumpre a condicionante nº02, da Licença de Operação nº 133/2007, relativa à expansão da empresa. A Arcelor será representada pelo professor Paulo Hilário Saldiva, que também já apresentou trabalho neste sentido para a Vale há alguns anos.
A pesquisa, intitulada de "Proposição de medidas de avaliação dos impactos da poluição do ar na saúde humana, na região da Grande Vitória", avaliou os efeitos dos poluentes do ar sobre a morbidade e mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares na população dos municípios de Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha.
A pesquisa foi condicionada à empresa depois que a Arcelor requereu a licença para ampliar suas duas primeiras usinas, licenciadas em tempo recorde pelo governo Paulo Hartung. Estas usinas operam há mais de duas décadas lançando no ar gases derivados do enxofre sem tratamento, só por economia. Ambientalistas durante anos exigiram, em vão, que unidades de dessulfuração fossem instaladas nas usinas para minimizar a poluição. A exigência persiste desde 1983, quando as usinas começaram a operar.
Estas usinas são localizadas no Planalto de Carapina, ao lado das pelotizadoras da Vale. Com a ausência da unidade de dessulfuração, os gases derivados do enxofre produzidos no processo de produção do aço são lançados sem tratamento no ar. O enxofre em contato com a água produz, entre outros, chuva ácida, que já foi registrada no entorno da usina da ArcelorMittal Tubarão. A Vale também produz poluentes gasosos, além de ser a maior produtora de poluentes particulados.
Ao todo, são 59 os tipos de gases lançados, sendo 28 altamente nocivos. Tais poluentes podem causar além de vários tipos de câncer, doenças que destroem o sistema imunológico, alérgicas, respiratórias e doenças genéticas.
Cada morador da Grande Vitória paga um tributo às poluidoras para tratar as doenças provocadas por ela de R$ 100,00 por ano, valor médio. E muitas das doenças causadas pela poluição não têm cura, como alguns tipos de câncer. Não estão computadas nestes cálculos as lesões permanentes no trabalhador, ocorrências com agravamentos drásticos na população e doenças provocadas pela poluição hídrica, entre outros.
Antes de expandirem suas atividades, a ArcelorMittal Tubarão, a Vale e a Belgo provocavam 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados apurados pelo Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A pesquisa apontou nessa ocasião que a Vale respondia por 20-25% dos poluentes do ar, a ArcelorMittal Tubarão por 15 a 20% e a Belgo por 5-8% das 264 toneladas/dia de poluentes, chegando a 96.360 toneladas/ano.
Além da expansão da ArcelorMittal Tubarão, a Vale também aumentará sua produção de pelotas em 45%, com reformas de velhas usinas e da instalação da VIII pelotizadora. Serão produzidas 39,3 milhões de toneladas ano de pelotas de ferro em Tubarão.
Ao aumentar a produção, os problemas também se agravarão. Assim, ambientalistas cobram da sociedade que participem da reunião, e exijam seriedade nos dados apresentados. O encontro será realizado no auditório do edifício Sesc-Cap, na rua Pedreira da Silva, 138, próximo ao prédio da Secretaria Estadual de Educação, em Vitória.
(Por Flavia Bernardes
, Século Diário, 09/07/2008)