Mutilado em choque contra fios, bugio-fêmea reaprende a se locomover

De galho em galho, um bugio-ruivo fêmea caiu em uma armadilha que quase lhe custou a vida, na zona sul da Capital. Ao confundir fios de alta-tensão com o prolongamento de uma árvore, o animal sofreu uma forte descarga elétrica que resultou na amputação de uma pata e de quatro dedos da outra. Mas a triste história se encaminha para um final feliz: apesar das limitações, ele já salta e circula com desenvoltura.

Com cerca de três anos e 3,8 quilos, o bugio sofreu os ferimentos no bairro Lami, em 24 de maio. Foram 15 minutos de aflição para o animal e para moradores das proximidades, que observaram a cena sem poder fazer nada, até o bugio cair no chão.

Chamados por moradores, integrantes do Comando Ambiental da Brigada Militar (CABM), do Programa Macacos Urbanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Clínica Veterinária Toca dos Bichos, do bairro IAPI, socorreram o primata.

- Tentamos evitar ao máximo as amputações, mas não foi possível. No início, achávamos que ela não conseguiria mais se locomover, mas, pelo contrário, ela tem uma mobilidade incrível. A cauda substituiu o membro amputado - comemora a veterinária Alessandra Roll, da Toca dos Bichos.

Devido às limitações físicas, Macaca, como vem sendo chamada pelos funcionários da clínica, não pode mais conviver com outros animais na natureza. Na semana que vem, ela será transferida para o Zoológico Municipal de Canoas, onde um recinto está sendo preparado para recebê-la.

Na mata, os bugios se alimentam de folhas de árvores (70%) e frutas (30%). Na clínica, o animal está há 15 dias em uma área externa, comendo legumes e frutas. A rapidez da recuperação surpreende a veterinária, que já atendeu a casos semelhantes:

- Ela é uma guerreira. Por muito menos, alguns animais não conseguem se movimentar. A agilidade e a vontade de fazer tudo nos surpreende. É a vontade de viver mesmo.

Por concentrar a maior parte da área verde da Capital, a zona sul é o hábitat de bugios-ruivos e macacos-pregos. Segundo a bióloga Soraya Ribeiro, coordenadora do Programa de Fauna Silvestre da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), há cerca de mil primatas na Capital.

Cabos ecológicos evitam acidentes
A veterinária Juliane Cabral, do Programa Macacos Urbanos, diz que acidentes envolvendo fios são comuns:

- Há grande extensão de cabos ecológicos (revestimento dos fios para evitar choques) na região da reserva do Lami, mas faltam em algumas áreas.

Em 2006, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) foi obrigada pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre a instalar cabos ecológicos. Desde então, a CEEE investiu R$ 150 mil, em oito obras.

(Zero Hora, 09/07/2008)