A Grã-Bretanha irá desacelerar sua adoção de biocombustíveis em meio a temores de que o produto pode causar aumento nos preços dos alimentos e prejudicar o meio ambiente, segundo a ministra do Transportes britânica, Ruth Kelly. Kelly disse que os biocombustíveis têm potencial para ajudar a cortar as emissões de dióxido de carbono, mas afirmou que "há cada vez mais questões" sobre eles.
"Nós temos de proceder com cuidado até que tenhamos certeza de que o aumento da produção e do uso de biocombustíveis tem mais benefícios do que riscos ao nosso planeta", afirmou Kelly. Ela disse aos parlamentares britânicos que o aumento "descontrolado" do cultivo de produtos usados na fabricação de biocombustíveis pode destruir as florestas tropicais.
Um relatório feito a pedido do governo britânico recomenda que a política de biocombustíveis seja "modificada, não abandonada." O Partido Conservador, de oposição, disse que a política do governo tem de mudar imediatamente.
Relatório
Uma equipe de especialistas, liderada pelo chefe da Agência de Combustíveis Renováveis Ed Gallagher, analisou o impacto da política de energia no uso da terra. O relatório recomenda que os biocombustíveis sejam introduzidos mais lentamente do que o planejado até que existam mecanismos de controle que evitem o aumento no preço dos alimentos e a mudança no uso da terra atualmente dedicada à agricultura ou a florestas.
O documento prevê que a manutenção das atuais políticas pode fazer, por exemplo, com que os preços dos grãos subam 15% e os do açúcar, 7%, na União Européia. Os especialistas também estimam que mais 10,7 milhões de pessoas na Índia podem acabar na pobreza por causa da alta no preço dos alimentos, e milhares podem ser afetados em países como Quênia, Malauí, Bangladesh e Brasil, onde 180 mil podem ser afetados.
Gallagher ressaltou que os dados não levam em conta o impacto que a mudança climática pode ter nas pessoas pobres se os biocombustíveis não forem introduzidos ou o benefício que eles poderiam ter nas economias rurais ou no preço do petróleo. O relatório também recomenda que a produção de biocombustíveis seja concentrada em terras ociosas ou marginais e no uso dos chamados biocombustíveis de segunda geração, feitos com restos das plantas, para evitar competição com a produção de comida.
Etanol do Brasil
O relatório faz referências positivas e negativas à produção de etanol no Brasil. Ao analisar o impacto que o biocombustível tem no uso da terra, por exemplo, o documento diz que "organizações ambientais têm enfatizado vários exemplos do efeito indireto dos biocombustíveis", entre eles, "a expansão da cana-de-açúcar no Brasil, em parte para a produção de biocombustível, levando ao deslocamento de gado e a um desmatamento acelerado da Amazônia."
O relatório afirma também que a produção de soja na América Latina e na América do Sul tem crescido em consequência do aumento da produção de milho destinado ao biocombustível e redução do cultivo de soja nos Estados Unidos. Ao recomendar o uso de terras marginais para a produção de biocombustível, o estudo afirma que, no caso do Brasil, é possível "liberar terras de pastagens (para a produção de cana) ao intensificar a atual baixa densidade de cabeças de gado por hectare."
Por outro lado, o documento ressalta que a produção de etanol do Brasil tem obtido um dos melhores resultados no que diz respeito à redução de emissão de gases de efeito estufa. O governo brasileiro tem defendido repetidamente que o etanol do país não faz pressão sobre o preço dos alimentos, entre outros motivos porque ainda existem muitas áreas livres para onde a produção por ser expandida.
(BBC Brasil, Ultimo Segundo, 08/07/2008)