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amianto eternit
2008-07-09
A Eternit planeja ser uma fornecedora "multi-produto" para o setor de construção civil se o amianto for proibido no Brasil.

"Ainda não existe esse formato de negócio no Brasil", afirmou o presidente da empresa, Élio Martins. Focada na fabricação de telhas e caixas d'água de amianto e na exportação desse mineral, a companhia teria nesse projeto uma saída para sua continuidade no caso de sua principal matéria-prima ser banida do território nacional, como já ocorreu em diversos outros países do mundo.

No início de junho, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é constitucional uma lei paulista que proíbe o uso do amianto. A mesma decisão poderá ser tomada pelo STF ao analisar leis semelhantes de outros Estados. O tribunal poderá rever ainda a validade da lei de âmbito nacional que atualmente permite o uso do mineral.

A Eternit constituiu, no fim de 2006, uma diretoria de exploração de novos negócios, com uma equipe de cinco pessoas, para buscar oportunidades. "Tudo que vai do chão ao teto pode ter a marca Eternit. Temos o nome, temos logística e temos como buscar recursos", afirmou Martins.

"Sempre quiseram tirar da gente nosso plano alternativo para dizer que a indústria está pronta para o banimento", disse, enfatizando que, mais do que uma discussão sobre saúde, o debate do amianto no Brasil envolve uma grande disputa comercial. Ele refere-se ao grupo francês Saint-Gobain, dono da concorrente Brasilit, que já foi seu parceiro, até 2001 - ano em que decidiu abandonar por completo o uso do amianto no Brasil, seguindo os rumos da matriz.

O projeto da Eternit de oferecer novos produtos ajudaria a companhia a alcançar a meta de dobrar o faturamento até 2011, o que a levaria a uma receita líquida da ordem de R$ 1 bilhão. "Colocaram uma pedrinha no nosso caminho. Mas temos uma história incrível de superação. Pode atrasar um pouco, mas vamos chegar lá", disse, sobre o risco de não poder manter a oferta de telhas e caixas d'água de amianto em seu portfólio. Se tiver mesmo que trocar a matéria-prima, o projeto de expansão que antes não afetaria o elevado ritmo de pagamento de dividendos da empresa, poderá comprometer a remuneração do acionista.

Para alcançar variedade na sua carteira, de tudo está sendo considerado - desde aquisições até a construção de fábricas. Martins acredita que o aquecimento do setor de construção deixou os ativos do segmento mais caros. Por isso, avalia que iniciar do zero poderia ser mais vantajoso.

A marca Eternit é que o executivo entende que permitirá à companhia atuar em outros segmentos e, ainda, conseguir recursos para financiar seus projetos. Mais uma vez, também na parte financeira, a companhia avalia desde captação por meio de dívida até emissão de ações. No entanto, ainda é preciso definir totalmente o futuro do negócio.

Em caso de banimento do amianto, o nome Eternit é o que restaria como principal diferencial para a briga com a concorrente Brasilit. Hoje, a competição é favorável a Élio pois o amianto é muito mais barato que as matérias-primas alternativas para telhas e caixas d'água. Segundo ele, o uso de outros produtos encareceria o produto de 30% a 60%, dependendo do material escolhido.

Seria uma oportunidade e tanto para a Brasilit, que opera no vermelho nesse ramo desde que abandonou o amianto, recuperar margens e concorrer em pé de igualdade. Para competir, a subsidiária do grupo francês tem que baixar seus preços, mesmo sem conseguir reduzir seus custos.

Apesar de saber quanto custaria a substituição de sua principal matéria-prima e ter um projeto de diversificação de produtos em andamento, Martins não quer abandonar a discussão e, muito menos, as chances de manter o amianto no país. Por isso, também tem atuado também fora do escritório. "Estamos tentando sensibilizar a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] para o risco de desabastecimento do setor de construção, que é a locomotiva da economia, nesse momento." A instituição fará um estudo, sobre os riscos do produto, antes de tomar uma posição nessa briga.

O presidente da Eternit destaca que não há, no mundo, capacidade pronta de abastecimento que poderia atender à atual necessidade do Brasil. "Nunca vendemos tanto em 68 anos. Esperamos por isso há mais de 20 anos."

Há hoje dois materiais que podem entrar no lugar do amianto: o polipropileno (PP), usado pela Brasilit, e o o álcool de polivinila (PVA), produzido no Japão e na China. A demanda brasileira hoje por amianto é da ordem de 40 mil toneladas anuais, mas Martins acredita que chegará a 70 mil toneladas em quatro anos. Por isso, não vê chance de substituição sem risco de desabastecer o mercado.

A construção de uma fábrica de PP custaria cerca de US$ 50 milhões, enquanto que a produção de PVA exigiria investimentos de até US$ 300 milhões. "É quase uma refinaria." Martins alerta que, em ambos os casos, a nova matéria-prima ficaria suscetível às oscilações do petróleo.

(Valor Online, FGV, 08/07/2008)

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