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2008-07-08

Conservar a selva congolesa e todas as florestas africanas, bem como acelerar o reflorestamento, é vital para a sobrevivência em um continente onde o Deserto do Saara se expande de norte a sul e o de Kalahari para sudoeste. Por isso, foi criado o Fundo Florestal para a Bacia do Congo (CBFF), no dia 17 de junho, em Londres. Seu financiamento inicial é de US$ 200 milhões, fornecidos por Grã-Bretanha e Noruega. Dez países da África central tomaram a iniciativa de administrar a selva de maneira mais sustentável e conservar as riqueza e a biodiversidade.

As selvas da Bacia do Congo fornecem alimento, abrigo e sustento a mais de 50 milhões de pessoas. Trata-se do segundo maior sistema de selva do planeta, depois da Amazônia. Com 200 milhões de hectares, a bacia inclui um quinto dos remanescentes mundiais de selvas tropicais de dossel cerrado (onde as copas das árvores se tocam, formando uma cobertura homogênea) e é um importante depósito de carbono, com um papel vital para regular o clima regional. Sua diversidade biológica é de importância mundial. Em um espaço que duplica a superfície da França, as selvas tropicais congolesas são lar de mais de dez mil espécies vegetais, mil espécies de aves e 400 de mamíferos.

Contudo, a Bacia do Congo sofre múltiplas pressões: desmatamento crescente, modelos agrícolas inconsistentes, aumento da população e exploração petrolífera e industrial, cujo resultado conjunto é maior desmatamento. Esta situação não é sustentável para as pessoas que ali vivem, para incalculáveis espécies que podem ser levadas à extinção e nem para o clima. Reverter o desmatamento é essencial, tanto para garantir o sustento da população regional quanto para manter a biodiversidade da floresta e sua capacidade de armazenar carbono. As florestas são insubstituíveis e podem morrer, embora pareçam inesgotáveis.

As duas nações que compartilham a ilha caribenha de La Española (Haiti e República Dominicana) são um exemplo vivo do que ocorre quando destruímos o meio ambiente, sobretudo as florestas. O desmatamento do Haiti, e a conseqüente perda de seus solos, o tornaram muito vulneráveis aos furacões e às inundações, aprofundando a miséria. Do outro lado da ilha, as condições da República Dominicana são muito melhores, pois em grande parte conservou suas florestas. Talvez a África deva estabelecer um dia, ou uma temporada, para plantar árvores. A educação ambiental deve começar na escola primária para que nossos cidadãos cresçam com um profundo apreço pelo meio ambiente. Sem educação, é muito possível que haja ministros promovendo políticas destrutivas pela simples razão de não saberem o que é certo. Lamentavelmente, as gerações que destróem o meio ambiente não são as que sentem as conseqüências.

Embora seja importante proteger a selva em cada país, também se deve reconhecer seu valor para além das fronteiras nacionais, como no ecossistema da Bacia do Congo. O impacto negativo de sua destruição será sentido tanto dentro quanto fora da África. Este continente dever proteger suas florestas nativas, bem como se comprometer em um amplo esforço de reflorestamento. Nossa população pode cultivar plantações comerciais para a indústria madeireira e da construção. Mas é um erro sacrificar as florestas pelos rápidos benefícios econômicos que dão os cultivos em expansão de monoculturas florestais.

Se o fizermos, estaremos minando as possibilidades de nossos filhos e netos de obter água e chuva para a agricultura, de obter energia hidrelétrica e desfrutar dos variados benefícios dos recursos hídricos, pois os rios secarão. A África já é um continente escasso em água. Não se pode arriscar que suas bacias fluviais sejam sacrificadas. Neste contexto, merecem reconhecimento as iniciativas do presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, que está construindo uma Grande Muralha Verde a partir de Dakar, no extremo ocidental da África, no Oceano Atlântico, até Djibuti, no Mar Vermelho, para conter o avanço do Saara.

“O projeto consiste em plantar árvores ao longo de sete mil quilômetros, de Dakar a Djibuti, para criar uma faixa verde de cinco quilômetros de largura junto ao deserto, com a finalidade de deter qualquer avanço da desertificação”, disse o próprio Wade. “Com a regeneração da biodiversidade queremos dar ao nosso planeta um novo pulmão verde e contribuir, portanto, para combater a mudança climática. Já definimos a localização da Grande Muralha e selecionamos as espécies de árvores, segundo as zonas climáticas. Cada país por onde passar estará responsável por erguê-la dentro de suas fronteiras”.

(Por Wangari Maathai*, Envolverde/Terramérica, 07/07/2008)
* A autora, Prêmio Nobel da Paz em 2004, é embaixadora da Boa Vontade para a Selva do Congo e fundadora do Movimento do Cinturão Verde. Direitos exclusivos IPS.

 


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