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projeto orla do guaíba movimento ambientalista gaúcho mídia e sustentabilidade
2008-07-08
Crítica de Membro do InGá a comentário infeliz do jornalista Túlio Milmann. Solicitação de direito de resposta quanto a rotulações àqueles que se opõem a irrestrita ocupação da orla do Guaíba (POA/RS).

Prezado Senhor Túlio Milmann,

Escutei seu comentário pela manhã de hoje (dia 02/07/08), quanto à reação dos ambientalistas à ampliação do Estádio do Internacional, e não posso deixar de solicitar um direito de resposta pela forma que considerei profundamente preconceituosa com que os ambientalistas foram referidos em seu comentário (ecochatos, Mao Tse-Tung, turma que expulsou a Ford, etc, etc.).  Foi também colocado na mesma linha o caso da resistência ao projeto da Ospa, do Sambódromo, como uma "visão do atraso" dos ecologistas que não querem o desenvolvimento da cidade.

Mais uma vez, os ambientalistas foram crucificados pela imprensa gaúcha que não está permitindo um mínimo de espaço para argumentarmos nossas preocupações conservacionistas.

Seu comentário também citava o fato da manifestação dos ambientalistas darem-se no Conselho Estadual de Meio Ambiente. Porém sou conselheiro do CONSEMA e este assunto não foi tratado lá, e sim pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente. Solicito uma correção deste seu engano. Segundo os membros das entidades ambientalistas do COMAM, o Internacional não apresentou nenhum encaminhamento de Licenciamento Ambiental quanto a estas obras na SMAM.

Este preconceito quanto aos ambientalistas não é fato isolado. Há alguns meses o comentarista Sr. Baldi, da Guaíba, chamou os ambientalistas que estavam contrários ao novo projeto do Teatro OSPA, na área verde ao lado da Câmara, como um "bando de veadinhos". No mesmo momento, liguei para a Guaíba e pedi que o jornalista se retratasse. Minutos depois ele me ligou e disse se continuássemos com esta concepção de "atraso' iríamos voltar para os galhos das árvores. Provavelmente, nos comparava também aos macacos.

Sr. Túlio, não tenho o mínimo preconceito com homossexuais, ecochatos, nem macacos. Mas acho que este tipo rotulação da imprensa gaúcha é tremendamente infeliz e injusta. O senhor deve saber bem quanto o preconceito étnico, religioso, sexual, racial, político, entre outros, prejudicam o diálogo e não nos deixam avançar.

O assunto da ocupação da orla do Guaíba por grandes empreendimentos é muito maior do que simplesmente sermos contra o desenvolvimento. As empresas anunciam seus projetos e só depois vão pedir os licenciamentos ambientais.

Não sei se o senhor sabe, mas o Litoral do Brasil está sendo totalmente descaracterizado e ocupado por grandes obras, como estas, que não perguntam nada à população, desrespeitam APPs, (Áreas de Preservação Permanente), a paisagem natural e o espaço público. Creio que o quadro da ocupação irrestrita das margens como em Porto Alegre e no Brasil é o mesmo.

Como biólogo, ambientalista, professor, e ex-técnico da SMAM, venho acompanhando a questão da orla do Guaíba e tenho um pouco de vergonha com que ocorre em nossa cidade. Quando os estrangeiros vêm a Porto Alegre, querem conhecer nossa paisagem natural e aqui parece que, cada vez mais, sobra muito pouco. Quando acompanhamos os turistas de fora, somente nos resta Ipanema. Mas lá também pairam outras ameaças. Há mais de dez anos, existe um projeto de construção de 16 (dezesseis) edifícios de 10 (dez) andares pela empresa Maiojama - empresa que o senhor deve conhecer - na última grande área verde do bairro Ipanema. Seriam mais de 3 (três) mil apartamentos, e provavelmente mais de 5 (cinco) mil automóveis circulando a mais nas estreitas ruas arborizadas de Ipanema. A RBS não deu um espaço para o tema que suscitou protestos de moradores e movimentos ambientalistas. Por que?

Neste sentido, os ambientalistas têm papel fundamental em alertar a sociedade pelo quadro cada vez mais alarmante em que vivemos. Poucos têm coragem de se levantar contra esta avalanche construtivista que cria fatos consumados e somente depois vai pedir licenças ambientais.

Somos poucos e comentários como o seu nos entristecem, porém não nos desmotivam.  Não recebemos nada por defendermos nossas idéias. Ao contrário, somos, inclusive, questionados por nossos familiares que nos perguntam por que "perdemos tempo  em causas perdidas". É muito triste esta injustiça e a energia que temos que colocar simplesmente para defendermos a Democracia e o Meio Ambiente.

Para finalizar, resumo alguns aspectos em que a imprensa gaúcha deveria dar mais espaço neste assunto, ou mesmo se inteirar dos seguintes aspectos:

1) Não existem limites definidos para a ocupação da orla do Guaíba e o setor econômico da construção não parece querer nenhum limite para isso. Estamos perdendo paulatinamente áreas verdes em Porto Alegre e lutamos simplesmente por uma definição clara e democrática, com diálogos, quanto a estes limites.

2) O parque da Harmonia, onde levava meus filhos para soltar pandorga e jogar bola, naqueles amplos campinhos, já foi retalhado e agora poderá receber o golpe fatal com mais uma obra de concreto (Teatro da OSPA), com um estacionamento imenso, para mais de mil automóveis, fumaça, buzina, etc. etc. É isso que os porto-alegrenses querem?

3) O Estádio do Internacional foi construído sobre aterros públicos e a expansão se deu de forma irregular, tanto é que quando eu era técnico da SMAM, no início da década de 90, acompanhei o Procurador do MPE, Sr.Orci Bretanha, em uma ação de vistoria quanto as várias irregularidades da ocupação da orla pelo clube. Uma vergonha as inúmeras irregularidades quanto ao espaço público e o desrespeito à paisagem e ao meio ambiente. Até quando o Clube vai continuar desrespeitando a lei? Seremos Ecochatos por querer limites ao avanço voraz da construção civil e a privatização da orla do Guaíba?

4) Por que a Prefeitura não realiza uma recuperação da paisagem da orla, mantendo as condições naturais, com equipamentos de lazer para TODOS e não simplesmente fechar os olhos, ou pior, favorecer a especulação imobiliária construtivista que está descaracterizando a paisagem de Porto Alegre, agora com imensos prédios, não só na orla?

Queremos que nos seja concedido um mínimo de espaço para colocarmos nossos argumentos. É um direito de nós cidadãos desta cidade. Por favor, tenham mais cuidado com a fonte das informações repassadas ao público.

Ainda acredito que rumamos a uma democracia, mas isso só será possível quando as visões diversas forem respeitadas e tiverem o mesmo espaço do que as grandes empresas que financiam a construção de empreendimentos e a imprensa local.

Gostaríamos de um direito de resposta.

Muito Obrigado.

(Por Paulo Brack*, Texto recebido por E-mail, 04/07/2008)
* Dep. de Botânica - Instituto de Biociências - UFRGS / Membro do CONSEMA pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais - INGÁ

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