O G8 (grupo dos sete países mais industrializados e a Rússia) reconheceu a necessidade de reduzir em 50% as emissões de CO² na atmosfera no ano 2050, uma medida para combater a mudança climática. A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, cujo país sedia a reunião anual do grupo. Os líderes dos países mais ricos do mundo, que têm posições diferentes sobre a luta contra o aquecimento global, pediram também a "cooperação" dos maiores emissores de CO² para chegar a essa meta, segundo Fukuda.
As conversas --realizadas entre os representantes de Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá, Japão e Rússia-- sobre o meio ambiente foram consideradas "excelentes" e levaram a um "avanço significativo", afirmou um porta-voz do governo dos Estados Unidos. Os líderes pediram que as economias emergentes "considerarem seriamente" a redução em 50% da emissão dos gases poluentes para 2050, e ressaltam que o êxito "só será possível com a determinação comum de todas as principais economias", disse o americano.
A mudança climática é um dos principais assuntos da reunião anual mantida pelos líderes dos países mais ricos do mundo, em Hokkaido (Japão). O aquecimento é discutido em meio à estagnação da economia mundial, à crescente pressão inflacionária, à alta do preço do petróleo e à crise alimentícia.
Acordo
Nesta segunda-feira, o Japão revelou que esperava chegar a um acordo enquanto os EUA afirmavam que qualquer pacto deveria incluir as grandes economias emergentes, como China e Índia. Em coletiva de imprensa, o presidente do Conselho para a Qualidade do Meio Ambiente (CEQ, em inglês) da Casa Branca, James Connaughton, disse já ter indicado que seu país poderia adotar "a meta de 50% até 2050".
"Cremos que conseguimos bons progressos, e por isso esperamos que a declaração os reflita", disse Connaughton, que afirmou ser necessário, entre outras coisas, estabelecer um sistema comum para medir os cortes de emissões. A Comissão Européia pediu ontem aos líderes do G8 para que se comprometessem a antecipar as metas de reduções das emissões de gases causadores do efeito estufa.
O presidente da comissão, José Manuel Barroso, se mostrou confiante em que os países do G8 concordassem em estabelecer suas próprias metas no médio prazo. "Se conseguirmos um compromisso no longo prazo para reduzir em 50% as emissões de gases até 2050, e um princípio de acordo sobre a redução no médio prazo, poderemos falar de êxito", disse.
Sem sucesso
No último encontro do G8, realizado há um ano em Heiligendamm (Alemanha), os líderes não chegaram a um acordo sobre um objetivo de longo prazo para a redução dos gases que causam o efeito estufa. O máximo que conseguiram foi a promessa de que estudariam "seriamente" as decisões já tomadas por União Européia (UE), Canadá e Japão, "que incluem a redução pela metade das emissões de CO² na atmosfera para 2050".
"Vamos trabalhar para alcançar compromissos reais nesta Cúpula do G8, não só a fim de reforçar as metas alcançadas no ano passado, mas também visando a um compromisso a médio prazo", apontou Barroso.
A UE, que concordou com a redução das emissões de gases em pelo menos 20% em relação aos níveis de 1990, quer um compromisso similar dos países que mais poluem --entre eles os Estados Unidos, país que não assinou o Protocolo de Kyoto. Barroso, no entanto, admitiu que seria improvável a aprovação de um acordo "numérico" sobre prazos de redução de gases a médio prazo.
Biocombustíveis
Ontem, no primeiro dia de cúpula, a atual crise dos alimentos, com o crescimento da demanda e dos preços, dominou a pauta, e os biocombustíveis foram novamente tratados como peça-chave da crise --mas com ressalvas para o produto feito à base de cana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou nesta terça-feira ao Japão para participar da cúpula. No encontro, Lula defenderá o álcool brasileiro e pedirá aos países industrializados que assumam mais responsabilidades diante do aquecimento do planeta.
"O Brasil não aceitará este argumento de que o álcool provoca a inflação dos alimentos. Estou indo ao Japão, à reunião do G8, apenas para isto", afirmou Lula no Brasil, antes de partir. André Amado, embaixador do Brasil no Japão, destacou que "os biocombustíveis são decisivos no combate ao aquecimento global (...). Tudo isto, como demonstra a experiência brasileira, sem colocar em risco a área agrícola reservada à produção de alimentos ou a floresta tropical".
Em uma carta divulgada nesta terça, as principais associações de produtores de álcool combustível de Brasil, Canadá, Estados Unidos e Europa exigiram dos chefes de Estado e de governo do G8 que considerem os biocombustíveis como parte da solução para a "dependência mundial do petróleo". Os produtores pediram a adoção de uma "postura de longo prazo em relação aos biocombustíveis para reduzir a demanda e a acentuada alta dos preços dos derivados de petróleo", informou a União Industrial de Cana-de-Açúcar do Brasil (Unica).
Alimentos e petróleo
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse na segunda-feira que o G8 analisará a meta de que "nenhum alimento seja substituído por biocombustíveis". "O objetivo é trabalhar em uma segunda geração de biocombustíveis, e isto deve refletir no documento" final da Cúpula.
Um estudo divulgado pelo Banco Mundial na semana passada diz que, nos últimos três anos, cinco milhões de hectares de terras aráveis que poderiam ter sido usados para plantação de trigo foram destinadas à produção de colza e girassol para biocombustíveis. Hoje o grupo voltou a expressar sua preocupação com o alto preço dos alimentos, e com as conseqüentes pressões inflacionárias que representam "um sério desafio" para a economia mundial.
Além disso, a reunião destacou o temor com a alta do petróleo. Os países se disseram dispostos a aumentar seus "esforços" para combater a escalada do barril de petróleo, que chegou a ser negociado a um preço recorde de US$ 145, segundo um porta-voz da Presidência japonesa. Indicaram que essa situação, unida aos altos preços dos alimentos e das matérias-primas, representam um "sério risco" para o crescimento mundial, mas precisaram que "não são pessimistas" sobre a situação econômica.
(Folha Online, com Efe, 08/07/2008)