Tem sido uma queixa recorrente dos setores produtivos brasileiros que a legislação ambiental foca mais a proibição do que a orientação. Nesse sentido, é salutar o desenvolvimento de projetos, com apoio do Governo Federal, que ensinem as atividades com algum impacto sobre o meio ambiente a se desenvolverem sob a luz de sua conservação.
Tecnologias vêm atestando que isso é possível e ações de ordem prática já se verificam em várias regiões do país, em geral sob a condução de entidades do terceiro setor. No Paraná, um exemplo dessa boa prática está no Programa de Extensão Agroflorestal, realizado com cerca de 500 agricultores familiares no sul do Estado, especificamente nos municípios de Bituruna, Palmas, Paula Freitas e Paulo Frontin.
O projeto, que teve início há quatro anos, é financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e executado pelo Instituto Ecoplan, com sede em Curitiba, em parceria com a Universidade Federal do Paraná. Seu objetivo é propiciar que o público atendido melhore as próprias renda e qualidade de vida usando sistemas florestais, agro-florestais e silvipastoris (pecuária + floresta), respeitando o meio ambiente.
O financiamento para a implantação do projeto nas propriedades desprovidas das condições de fazê-lo veio do Pronaf-Florestal – uma linha de crédito do Banco do Brasil que empresta o recurso para ser pago em doze anos, com oito de carência e juros de 3,5% ao ano.
A assistência técnica do Ecoplan incluiu a distribuição de duas cartilhas. Numa, os agricultores recebem uma explicação didática sobre a importância das árvores – com ênfase para a araucária, símbolo do Paraná -, leis ambientais, áreas de preservação permanente (APP), reserva legal, reflorestamento e até sobre o resgate da cultura popular. Outra cartilha, essa enfocando Técnicas Silviculturais e de Manejo Florestal, também explica o que são APPs e reserva legal, orientando para a exploração da propriedade em observância à conservação das matas nativas.
ConscientizaçãoO trabalho com os agricultores ajuda a formar novas consciências. Ângelo Sulk Graciano, 41, do município de Bituruna, foi um dos participantes do projeto e hoje planta feijão, erva-mate, parreirais e madeira de reflorestamento.
Quando começou a querer plantar pinus, assume que já aventava a possibilidade de derrubar parte de uma mata em sua propriedade. Aprendeu com o projeto que, em outra área, onde existiam algumas araucárias, poderia fazer esse plantio de forma consorciada: não precisava mexer nelas – o que seria inclusive contra a lei - e pouparia a mata antes sob ameaça.
“Onde tinha araucárias, fiz intercalado. Temos que mudar a distância que planta o pinus, não pode aproximar muito”, disse Ângelo a AmbienteBrasil. “Era uma área parada, que não tinha nenhum futuro econômico, fora a araucária, preservada. Agora, a perspectiva é ter lucro no prazo máximo de oito anos, quando a gente pode fazer o desbaste do pinus”, completa.
Segundo ele, se esse plantio em consórcio for bem planejado, não existe nenhuma perda ambiental. “Se o pinus se aproximar muito das araucárias, no primeiro desbaste a gente já vai resolvendo”. “Uma vez que incentivamos o agricultor a otimizar sua propriedade, ele usa áreas que já foram anteriormente degradadas e mantém preservadas maiores porções de mata nativa que ainda existem”, explica a AmbienteBrasil a bióloga do projeto, Liliane Andréa Noga.
“O agricultor se sente seguro, com o florestamento, a ter uma fonte de renda no futuro e, com isso, começa a cuidar dos remanescentes nativos, basicamente de Floresta Ombrófila Mista”, diz ela, atestando um visível fortalecimento da consciência ambiental no público atendido.
O projeto Extensão Agroflorestal realizou, em 30 de maio passado, no município de Paulo Frontin, o II Seminário de Atualização Agroflorestal com a participação de 63 agricultores. Eles assistiram a uma apresentação teatral com os alunos da escola Tecla Ronko, seguida de nove palestras que versaram sobre diferentes temas, tais como: Permacultura, Adubação Ecológica, Comunidades Sustentáveis, Desenvolvimento Sustentável, Políticas Públicas para Agricultura Familiar, Agrofloresta Sustentável, Legislação Ambiental e Mercado de Produtos Florestais.
(Por Mônica Pinto,
AmbienteBrasil, 07/07/2008)