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extinção de espécies
2008-07-07

"A poluição sonora é a mais grave das ameaças que pesam sobre o meio marinho". Este é o sinal de alarme que disparam os especialistas em bio-acústica presentes na conferência mundial que reúne desde 29 de junho e até 4 de julho em Paris, mais de 4.500 especialistas que se dedicam ao monitoramento dos efeitos dos ruídos sobre as espécies.

Num sinal da importância que estes atribuem a esta questão, este ciclo de conferências, que tratam de todos os aspectos - científicos, médicos ou industriais - da disciplina, foi iniciado com uma comunicação a respeito do impacto das fontes sonoras sobre os mamíferos marinhos.

O oceano nunca foi o "mundo do silêncio" exaltado pelo comandante Cousteau. Desde sempre, ele é tomado por ruídos, produzidos pela natureza (movimentos sísmicos, ondas, chuva. . .) ou pela fauna marinha (peixes, crustáceos. . .). Mas, "ao longo dos últimos cem anos, o desenvolvimento das atividades humanas no mar introduziu fontes sonoras artificiais, o que gerou um nível de ruído que nunca havia sido alcançado no decorrer dos milênios", descreve Michel André, o diretor da Escola Politécnica da Catalunha e um especialista em bioacústica animal.

Esta poluição de origem antrópica (humana) é múltipla: transportes marítimos (só no território marítimo europeu transitam mais de 50.000 navios de grande tonelagem), atividades de busca de novas jazidas petrolíferas e de gás (não raro efetuadas por meio de canhões de ar comprimido), manobras militares (com a utilização de explosivos ou de sonares), turbinas eólicas em alto-mar, aviões supersônicos. . . Todas as quais constituem fontes de decibéis que podem ter efeitos desastrosos sobre os mamíferos marinhos, em particular os cetáceos (baleias, golfinhos, cachalotes, orcas, marsuínos (botos) e também narvais), e, além deles, os pinípedes (morsas, focas, otárias).

Com efeito, esses animais utilizam sistemas acústicos muito sutis para se orientarem no seu meio-ambiente, por meio da ecolocação, e para comunicarem entre si. Os golfinhos e os cachalotes, por exemplo, são dotados de sonares cujo eco os informa da distância e da natureza dos relevos ou dos organismos que os cercam. Da mesma forma que todos os odontocetos (cetáceos dotados de dentes), eles produzem sons por maio da projeção de ar através dos condutos aéreos nasais e dos lábios localizados na parte superior da cabeça. Em relação à audição, eles percebem as vibrações por intermédio das suas mandíbulas, as quais dirigem a informação rumo ao seu ouvido interno.

O modo de comunicação da baleia, por sua vez, ainda é muito mal conhecido. Este gigante é capaz de "falar" com os seus congêneres a milhares de quilômetros de distância, por meio de sinais sonoros emitidos numa freqüência muito baixa que provavelmente transportam pelos oceanos afora informações sobre os cardumes de peixes ou de plânctons. Mais de 80 espécies de cetáceos foram recenseadas, cada uma possuindo suas especificidades.

Os ruídos gerados pelo homem podem, quando são intensos, provocar lesões nos órgãos de recepção auditiva dos mamíferos ou prejudicar mais amplamente seus sistemas sensoriais, cujas conseqüências não raro podem ser mortais. É neste sentido que são interpretados certos encalhes em massa de baleias. Por esta razão, nos Estados Unidos, a utilização de sonares militares é proibida no litoral da Califórnia. A decisão de George W. Bush de abrir uma exceção para a marinha fez com que um recurso seja apresentado perante a Corte Suprema americana.

Embora ela não seja necessariamente letal, a poluição sonora antrópica "criou uma "neblina acústica" que confunde os sinais emitidos e captados pelos mamíferos marinhos, perturbando com isso os mecanismos que lhes são necessários para comunicar, se alimentar e se reproduzir", explica Michel André.

Não há dúvida de que, os cetáceos, que apareceram na face da terra há várias dezenas de milhões de anos, sejam dotados de uma boa capacidade de adaptação a meios cujas condições são variáveis. Mas, os cientistas temem que o ruído de fundo gerado pelas atividades humanas seja ainda recente demais para que eles tenham tido a possibilidade de desenvolver processos de adaptação. Tanto mais que no mesmo tempo, esses predadores, situados no topo da cadeia alimentar marinha, precisam enfrentar a deterioração da qualidade das águas e ainda o aquecimento climático, os quais prejudicam os recursos em alimentos, e principalmente a produção de plâncton.

Os riscos de extinção de espécies são subestimados
Certas espécies apresentam um risco de extinção nitidamente superior ao que se admitia até então, afirma um estudo americano que foi publicado na quinta-feira, 3 de julho, na revista "Nature".

Enquanto os atuais métodos de estimativa deste perigo levam geralmente em conta o número de sobreviventes da espécie e as suas condições de vida, os autores deste estudo afirmam que o risco de extinção de uma população natural depende de fatores aleatórios que afetam cada indivíduo. Eles explicam que os modelos estocásticos (que dependem de uma variável aleatória) que eles desenvolveram dão conta corretamente da variabilidade demográfica de uma espécie. "Populações bastante importantes, que anteriormente eram consideradas como relativamente imunes, podem estar em perigo", concluem os pesquisadores.

(Por Pierre Le Hir, Le Monde, UOL, 06/07/2008)


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