Presidente deve argumentar que produto não contribui para aumento dos alimentos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta terça-feira no Japão, onde participará como um dos convidados da reunião de cúpula do G8, com o objetivo de convencer os demais participantes do encontro de que os biocombustíveis - particularmente os produzidos pelo Brasil - não são os responsáveis pelo aumento global nos preços dos alimentos e que eles podem ser uma alternativa viável para reduzir a dependência mundial do petróleo e ao mesmo tempo ajudar a combater o aquecimento global.
"(Durante a cúpula) o presidente Lula deve defender a viabilidade dos biocombustíveis para combater as mudanças climáticas e não prejudicar a produção de alimentos, contra a atual onda contrária aos biocombustíveis em meio aos crescentes preços dos alimentos", comenta Roberto Hanania, chefe da equipe que estuda o Brasil no G8 Research Group, comunidade acadêmica destinada a estudar as ações do grupo dos oito.
Há mais de dois anos que Lula aproveita toda a oportunidade que tem em encontros internacionais para propagandear os biocombustíveis, dos quais o Brasil é um dos principais produtores mundiais.
Porém no último ano o cenário internacional mudou bastante, com questionamentos cada vez mais freqüentes sobre a viablidade dos biocombustíveis.
Pressão
Na última semana, um documento do Banco Mundial publicado pelo jornal britânico The Guardian estimou em 75% a responsabilidade dos biocombustíveis no aumento dos preços globais dos alimentos.
O argumento é de que a crescente demanda por grãos, milho e cana-de-açúcar, principais matérias-primas para a produção de biocombustiveis, estaria pressionando os preços para cima.
Além disso, muitas organizações internacionais vêm questionando também o argumento ambiental dos biocombustíveis, afirmando que sua cadeia de produção acaba sendo tão ou até mais poluidora do que a queima de combustíveis fósseis, e que o aumento da produção de soja ou de cana para a transformação em biocombustíveis estaria provocando desmatamentos na Amazônia.
O governo brasileiro argumenta que o Brasil tem quantidade suficiente de terras aráveis fora da Amazônia e que o aumento da produção de matérias primas para os biocombustíveis não ameaça a área de floresta.
Além disso, o argumento do Brasil é de que sua produção de biocombustíveis, particularmente a do etanol, feito à base de cana-de-açúcar, é mais eficiente em comparação, por exemplo, à do etanol de milho feito nos Estados Unidos, e que não teria um impacto sobre os preços dos alimentos.
Roberto Hanania, do G8 Research Group observa que "o presidente Lula afirmou que os biocombustíveis podem aumentar a segurança energética de países que não têm fontes mais convencionais de energia e também aumentar o crescimento do setor agrícola, com seus benefícios de desenvolvimento associados a isso".
Esse argumento é em parte chancelado pelo Japão, anfitrião desta cúpula. "Com a ameaça das mudanças climáticas, todos os olhos estão voltados para o Brasil, que tem um modelo de biocombustíveis que pode ser seguido em outros países", comenta Tomohiko Taniguchi, subsecretário de imprensa do Ministério das Relações Exteriores do Japão.
Para Taniguchi, "o presidente Lula está em uma boa posição para mostrar ao mundo como resolver essa equação, produzindo biocombustíveis eficientemente". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
(BBC Brasil, Folha de S. Paulo, 07/07/2008)