Os biocombustíveis forçaram os preços dos alimentos a aumentar 75 por cento desde 2002, segundo um relatório confidencial do Banco Mundial, que os responsabiliza pela crise alimentar. O jornal britânico “The Guardian” publica hoje excertos do relatório. O relatório, concluído em Abril mas que ainda não foi publicado, diz que o aumento dos preços da energia e dos fertilizantes foi responsável por um acréscimo de apenas 15 por cento nos preços dos alimentos.
Este documento, da autoria de Don Mitchell, economista sénior do Banco Mundial, contradiz a tese norte-americana de que os biocombustíveis contribuíram com menos de três por cento do aumento dos preços dos alimentos. Por isto mesmo, vários analistas acreditam que o relatório ainda não foi divulgado para evitar embaraçar a administração Bush. “Iria colocar o Banco Mundial num ‘hot-spot’ político com a Casa Branca”, comentou ontem um analista, citado pelo “The Guardian”.
Segundo o Banco Mundial, o aumento dos preços dos alimentos colocou 100 milhões de pessoas em todo o mundo abaixo do limiar de pobreza. Bush aponta o aumento da procura na Índia e China como causas do aumento dos preços. Mas o Banco Mundial não concorda. “O rápido crescimento dos rendimentos nos países desenvolvidos não originou grandes aumentos no consumo mundial de cereais e não foi um factor responsável pela grande subida dos preços”, revela o estudo. A aposta da União Europeia e dos Estados Unidos nos biocombustíveis teve, de longe, o maior impacto nos “stocks” alimentares e nos preços.
A União Europeia tem como meta dez por cento de biocombustíveis nos transportes, até 2020. Mas este objectivo está debaixo de críticas.
Biocombustíveis distorceram o mercado, diz relatório
“Sem o aumento dos biocombustíveis, os ‘stocks’ mundiais de trigo e milho não teriam registado um declínio tão acentuado e o aumento dos preços devido a outros factores teria sido moderado”, conclui o relatório, citado pelo “The Guardian”. O relatório explica que a produção de biocombustíveis distorceu o mercado: os cereais destinados à alimentação passaram a ser usados para produzir combustível - mais de um terço do milho norte-americano é agora usado na produção de etanol - e os agricultores têm sido incentivados a dedicar solo agrícola para a produção de biocombustíveis. Além disso geraram especulação financeira no sector dos cereais. O Governo britânico prepara-se para publicar o seu próprio relatório sobre o impacto dos biocombustíveis, o “Relatório Gallagher”.
(Ecosfera, 06/07/2008)