A ativista indiana Vandana Shiva definiu como uma catástrofe o modelo de desenvolvimento econômico da Índia, pois funciona apenas "para algumas pessoas" enquanto milhões "comem menos e têm menos água". Em entrevista concedida à Agência Efe em Zaragoza, na Espanha, a escritora e cientista criticou duramente o desempenho da economia do mundo em geral, mas particularmente da Índia.
No caso de seu país, disse que o que muitos consideram um milagre econômico é um desastre, principalmente porque aconteceu à custa da natureza, de seus processos ecológicos e dos ecossistemas vitais. Shiva acredita que a evolução da economia indiana nos últimos anos, com crescimento que alcança 9%, é "muito violento" e "uma catástrofe", pois só funciona para "algumas pessoas que se apropriaram do mundo de milhões de pessoas, de sua forma de vida, de sua água e inclusive de sua terra".
Enquanto isso, milhões de pessoas "comem menos e têm menos água para beber", muitas comunidades são obrigadas a deixar suas terras para que outra fábrica possa se instalar e milhares de produtores rurais lutam nos arredores de Nova Délhi contra os projetos de transformar suas terras em zonas urbanas, denunciou.
Outra questão citada por Shiva é a crise mundial de alimentos. Segundo a ativista, essa é uma "crise de especulação e distribuição" causada "pelo homem" e que se baseia na "falsa integração das economias locais em uma economia global", onde "cinco gigantes controlam os preços em nível mundial". Shiva também afirmou que o desenvolvimento de biocombustíveis também tem sua parcela de culpa no crescimento da demanda de cereais, inclusive mais do que o aumento da população.
"É o momento de o crescimento econômico deixar de ser ecologicamente cego e voltar a suas raízes", disse Shiva, que ficou famosa nos anos 70 ao impedir a derrubada indiscriminada de florestas de seu país com seus abraços às árvores, junto com centenas de mulheres do movimento "chipko".
(Efe, Folha Online, 06/07/2008)