Entrevista - Plásticos oxibiodegradáveis não são solução para o desastre anunciado dos aterros
sacolas e embalagens plásticas
plástico biodegradável
gestão de resíduos
2008-07-04
Pesquisador da Universidade do Estado da Califórnia, o Dr. Joseph Greene falou a empresários e acadêmicos gaúchos sobre as confusões existentes em torno da degradabilidade de plásticos. A palestra, ocorrida na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (na Fiergs), foi um convite da ONG Plastivida e da Braskem/Copesul. Como especialista na questão dos resíduos plásticos, Greene deixou claro que se opõe à idéia dos oxidegradáveis, materiais plásticos que facilmente se dispersam em aterros, dando a falsa impressão de solucionar o problema dos resíduos sólidos. Greene mostrou que estes materiais, na realidade, deixam passivos ambientais mais graves, representados por substâncias tóxicas que escapam para o solo a partir da decomposição da matéria plástica que os abriga. Greene testou diversos materiais plásticos em diferentes tipos de aterros e concluiu que, por outro lado, a opção por não-biodegradáveis pode ser o anúncio de um desastre nos próximos anos. Confira a entrevista exclusiva ao AmbienteJÁ.
AmbienteJÁ – O Sr. pode falar sobre este projeto de acompanhamento da degradação de diferentes tipos de plásticos em diferentes ambientes que o Sr. desenvolveu na Universidade do Estado da Califórnia?
Joseph Greene – Sou professor do curso de Engenharia Mecânica na Califórnia State University, Chico. Por meio de uma demanda do Estado da Califórnia, na pesquisa, buscamos formas de novas maneiras de degradação de plásticos, como elas poderiam afetar a sociedade. E o melhor meio é conseguir a remoção do composto. Assim, isto minimiza o efeito no solo, no ar e na água.
AmbienteJÁ – O que o Sr. concluiu ao analisar diferentes tipos de plásticos?
Greene – Perguntamos e buscamos saber o que significa ser degradável para diferentes tipos de plásticos. Quais as opções que o Estado da Califórnia tem, o que eles deveriam projetar e o que não deveriam projetar. O que deveria ser feito com o plástico após o uso pelos consumidores, para onde deveria ir este material? Este é o fato: verificar se ele polui, que problemas custa para agricultores, para o solo, ou para as cidades e suas águas. Existem toxinas nesses plásticos? O que acontece se reciclarmos este material? Melhoraríamos esses plásticos se reciclássemos os de polietileno com o desenvolvimento de técnicas? Causaria problema se o plástico reciclado assim com essas técnicas fosse utilizado por alguém, acidentalmente? Foi isto que eu busquei esclarecer.
AmbienteJÁ – Qual a posição da Califórnia sobre os plásticos oxibiodegradáveis?
Greene – A Califórnia quer que se ajude a entender o que significa ser biodegradável, quais materiais são e quais não são biodegradáveis. E os que podem causar mais problemas ambientais são os oxidegradáveis e que se fragmentam mas não se biodegradam. Eles se fragmentam em pequenos pedaços, causando muito mais problemas para a disposição e a coleta.
AmbienteJÁ – Há empresas vendendo a idéia de que o oxidegradável é melhor que o plástico comum?
Greene – Sim, existem. É exatamente pior do que o polietileno regular. Porque o polietileno não se quebra/rompe em aterros. Nada se desfragmenta em aterros: cenouras, jornais, tomates, alface, cachorro-quente. Tudo isso fica lacrado, selado.
AmbienteJÁ – E que solução existe para isto?
Greene – Boa pergunta. Para ter um plástico verdadeiramente degradável, que chamamos compostável, o que realmente significa ser realmente biodegradável? Há um estado de alerta em todo o mundo, e isto significa que temos que ter uma solução em termos de gerenciamento de resíduos... temos que ter um plano para conseguir isto. Para plásticos renováveis, sim. Para plásticos compostos, o plano é direcionar os compostos, não enviá-los para aterros. Os plásticos compostos vão embora em seis meses, vão-se completamente. O problema é o oxidegradável. Oxifragmentos não foram planejados para disposição. Você não pode enviá-los para composto, nem pode enviá-los para aterro.
AmbienteJÁ – Porque eles não podem ser recuperados...
Greene – Eles não podem desaparecer. Talvez plásticos regulares levem mil anos, talvez dez mil anos para desaparecer... o polietileno. Os oxidegradáveis ficam em pequenos pedaços, e o público pensa em dez anos, mas eles ainda serão polietileno e persistirão por mais mil anos. Eles são apenas pequenos pedaços de polietileno que, infelizmente, persistem.
AmbienteJÁ – Estes plásticos oxidegradáveis contêm metais pesados?
Greene – Metais pesados estão presentes estão em pinturas e tintas, principalmente. Metais pesados não estão nos polietilenos.
AmbienteJÁ – Mas qual elemento ou substância leva à degradação desses plásticos chamados oxidegradáveis?
Greene – Eles têm cobalto também. Eles possuem um tipo de composto de cobalto, e este é um problema.
AmbienteJÁ – Como se gerencia a remoção deste cobalto?
Greene – É muito caro para fazer esta recuperação. Mas é possível remover o cobalto do solo.
AmbienteJÁ – Isto é geralmente feito?
Grene – Não. O que eles fazem com o polietileno é aumentar a oxigenação e cortar o material em pequenos pedaços. Assim, eles pensam que desaparece, você pode ver e pensar que é ambientalmente melhor, mas isto não é verdade porque é um pequeno problema agora. São pequenos pedaços que se vão com o vento. Você não vê, pois esses pedaços se espalham...
AmbienteJÁ – Então esta pretensa solução é muito pior...
Greene – Exato. É muito pior porque ingressa na cadeia alimentar. Porque, em pequenas porções, os animais podem ingerir esses plásticos. Peixes ... e nós comemos o peixe que ingeriu esses plásticos. Assim, pequenos organismos podem morrer disto, ou em pequenas cadeias alimentares, ou na cadeia alimentar mais ampla, o que é muito pior.
AmbienteJÁ – Que planos tem o governo da Califórnia para lidar com o problema dos plásticos degradáveis, oxi e biodegradáveis?
Greene – É bastante confuso porque todos esses materiais são ofertados, mas eles deveriam ser dispostos em locais corretos, como em San Francisco. Eles incentivam os supermercados a banirem sacolas plásticas.
AmbienteJÁ – É um ordenamento legal?
Greene – Sim, em San Fancisco é. Os supermercados não podem dar pequenas sacolas para o consumidor.
AmbienteJÁ – E sobre problema dos plásticos oxidegradáveis, que planos tem o governo?
Greene – Este tipo de material, no Estado da Califórnia, não é permitido em prédios públicos, escritórios, universidades, escolas. Não podemos mais comprar mais estes materiais.
AmbienteJÁ – Quanto percentualmente representam estes plásticos em relação ao total utilizado?
Greene – É um pequeno percentual, muito pequeno. Você pode ver este tipo de plástico em sacolas. Mas em San Francisco você pode trazer sua sacola reutilizável. Você pode armazenar, levar para casa...se você reutiliza a sacola, tudo bem.
AmbienteJÁ – Como as pessoas costumam se comportar com relação ao uso da sacola reciclável? Elas realmente dão atenção a isto?
Greene – A maioria das pessoas quer fazer a coisa certa. Elas querem ajudar, especialmente na Califórnia. Elas querem ajudar o meio ambiente. Mas elas são confusas.
AmbienteJÁ – Quanto tempo leva para as pessoas mudarem sua mentalidade quanto ao uso de materiais mais adequados ambientalmente?
Greene – Eu ouvi dizer, mas não sei exatamente sobre este tipo de estudo. Mas em San Francisco, é muito bem sucedido, as pessoas estão usando sacolas de materiais compostos por sua conta, elas recolhem, coletam... porque San Francisco gera 70% dos resíduos que costuma ir para aterros. Setenta por cento, agora, são recicláveis ou enviados para compostagem. Desta forma, os consumidores estão indo muito bem em San Francisco. Está na lei: na Califórnia, todas as agências governamentais, incluindo escolas, têm que ter no mínimo 50 por cento [de reciclagem].
AmbienteJÁ – Existem penalidades para pessoas que não obedecem a esses parâmetros?
Greene – Não, para pessoas não existem, mas para instituições. Agências governamentais e escolas e algumas companhias podem ser multadas se elas não apresentarem 50 por cento ou uma taxa maior de reciclagem ou compostagem de resíduos.
AmbienteJÁ – O Sr. acha que as companhias e instituições mudaram seu comportamento por causa das multas, apenas, ou este é um comportamento natural delas, que mudou ao longo do tempo?
Greene – Elas mudaram, sim. Porque há muitas pessoas tentando fazer o melhor pelo meio ambiente nos Estados Unidos. Elas querem ser mais verdes. Elas estão tentando comover outros. E na Califórnia, é muito acentuada a consciência ambiental.
AmbienteJÁ – Na sua pesquisa, o Sr. mostrou que é muito difícil gerenciar até mesmo plástico reciclável, porque este tipo de material permanece enterrado e não se degrada, sem oxigênio, em ambiente anaeróbico. Como resolver isto?
Greene – No aterro, nada se degrada. A solução é ter menos aterros.
AmbienteJÁ – A redução dos aterros está acontecendo?
Greene – Já demos início às reduções.
AmbienteJÁ – Se compararmos o volume que ia para aterro na Califórnia, há dez anos e hoje. Qual a percentagem de redução?
Greene – É uma boa questão, eu não sei. É um bom ponto... a redução dos aterros. Mas posso dizer que houve uma boa redução porque temos muitas comunidades praticando esta redução. Mas não tenho dados sobre isto.
AmbienteJÁ – E se compararmos a Califórnia com outros estados norte-americanos. Como está a situação?
Greene – Há estados indo muito bem, como Califórnia, Nova Jersey. Mas há outros indo muito mal. Eles têm muito espaço para fazer aterros, é mais barato. Eles jogam os resíduos, passam com um caminhão por cima, após pagarem uma taxa, que na Califórnia é muito elevada. Mas não é tão elevada em outros Estados, como, por exemplo, Kentucky, ou Utah. Em grandes estados, com poucas pessoas, podem jogar os resíduos em qualquer parte, pois ninguém vive ali, de qualquer forma... gastam, talvez, apenas trinta dólares por tonelada de aterro.
AmbienteJÁ – E qual o papel da indústria do plástico na Califórnia? Como ela age?
Greene – De fato, a Califórnia tem muitas fábricas de sacolas plásticas. Mas não fabrica muita resina de plásticos. Porém, na Califórnia, fazemos as sacolas, podemos comprá-las em shoppings. Eles estão de fato trabalhando com organizações da área de sacolas plásticas em Califórnia para ter produtos mais ambientalmente amigáveis. Existem planos para a certificação. Os fabricantes de plásticos estão sendo incentivados a ser mais recicladores, prover materiais mais recicláveis, a usar materiais que sejam, por exemplo, 50% de polietileno e 50% de madeira. Eles juntam esses materiais. Eles também não usam qualquer tipo de metais nas tintas.
AmbienteJÁ – Os plásticos não têm nenhum timbre?
Greene – Nenhum. Mas há uma certificação que funciona para nós mesmos, Environmentally Preferred Rating (EPR), que assegura que se está usando material reciclável, que não está se usando metais...a EPR não é uma agência governamental, é uma agência comercial, é uma empresa do setor plástico. Em vez de o governo nos dizer o que fazer, nós nos organizamos e nos autopoliciamos.
AmbienteJÁ – E funciona bem?
Greene – Sim, também ajuda as companhias quanto aos seus parâmetros em relação à qualidade do ar, qualidade da água, à verificação de que as pessoas estão descartando bem os produtos... que os seus resíduos vão para a reciclagem...
AmbienteJÁ – A sua pesquisa inclui técnicas de incineração de plásticos?
Greene – Não, isto eu apenas leio em artigos.
AmbienteJÁ – O Sr.. acredita que se possa adotar o aproveitamento energético do plástico no Brasil?
Greene – Acho que faz sentido, para o polietileno, é muito bom. É de bom senso se você tem um clima adequado para isto, se se faz uma boa análise de qualidade para o polietileno, ao final de seu uso, então você o recicla ou o dispõe. Faz sentido queimá-lo em um incinerador tecnologicamente adequado, de baixas emissões. Mas plásticos degradáveis não deveriam ser reciclados, não deveriam ser queimados, deveriam ser colocados em compostos, para a melhoria dos solos.
(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 04/07/2008)