Depois de 15 dias sem poder sair para o mar para trabalhar por causa do fechamento da foz do rio, os pescadores de Barra do Riacho estão se manifestando em frente ao Portocel, da Aracruz Celulose, exigindo que a empresa abra a barra do rio. Eles apontam que a Aracruz é responsável pelos prejuízos que têm, pois desvia a água do rio para suas fábricas.
Com o fechamento das comportas para abastecer suas três fábricas, o rio perde força e suas águas não chegam ao mar, impedindo a passagem dos barcos. Os trabalhadores são filiados à Associação dos Pescadores da Barra do Riacho e da Barra do Sahy, com 120 membros.
Segundo relato do tesoureiro da associação, Wendel de Oliveira Cordeiro, os pescadores estão há 15 dias sem poder levar os barcos para o mar, pelo fechamento da barra do rio Riacho. Eles verificaram que quatro das comportas construídas pela Aracruz Celulose no rio Riacho estão fechadas, desviando as águas para o abastecimento das fábricas da empresa.
Como não há água no rio suficiente para abrir a passagem para o mar, os próprios pescadores tentaram retirar a areia da barra, com instrumentos manuais. Não conseguiram. Depois de muito insistir, conseguiram uma patrol da prefeitura, mas a máquina quebrou.
Sem ter como trabalhar, os pescadores decidiram realizar a manifestação em frente ao Terminal Especializado de Barra do Riacho (Portocel), onde estão desde as 9h desta quinta-feira (3). A Aracruz Celulose se comprometeu a enviar ao local uma patrol, e os pescadores afirmam que não vão sair da entrada do porto até a chegada da máquina, que, segundo a empresa, está em Jacupemba, a cerca de 60 quilômetros do porto.
Os pescadores estão permitindo a entrada de carretas no Portocel. Mas podem radicalizar na manifestação. É que cada pescador tem uma renda mensal (paga semanalmente) entre R$ 600,00 e 700,00. Como é a terceira vez em dois meses que eles não podem sair para pescar (o atual, de 15 dias, e os outros de uma semana e de quatro dias), a situação financeira dos trabalhadores é difícil.
Wendel Oliveira Cordeiro informou que os problemas dos pescadores de Barra do Riacho começaram logo após a construção do Portocel. “O Portocel impede o fluxo da água do mar. Como a água do Riacho é também desviada para as fábricas da Aracruz Celulose, ocorre o fechamento da barra do rio”, explica. Ele calcula que são 80 barcos em operação na região.
O pescador aponta que a solução definitiva para o problema dos pescadores é a construção de um enrocamento, que torne permanente a saída da água do rio. Esta medida já foi solicitada à Aracruz Celulose, ao Portocel, à prefeitura de Aracruz e até à Petrobras, mas os pescadores nunca foram atendidos. A construção do enrocamento pode vir como uma das compensações ambientais dos novos projetos para a região.
Os prejuízos sofridos pelos pescadores de Barra do Riacho têm reflexos em toda a comunidade. O comércio é afetado, e falta peixe até para consumo dos moradores. Herval Nogueira Junior, portuário, morador da barra, afirma que a situação dos pescadores é precária. E alerta que a manifestação que está sendo realizada poderá ser radicalizada.
No local da manifestação estão cerca de 60 pescadores, mas o grupo pode somar mais de 300 pessoas, inclusive seus familiares, se a máquina prometida para abrir a boca da barra do Riacho não chegar ao local nas próximas horas.
Mais degradação No dia 11 de dezembro do ano passado começaram as operações no novo terminal de barcaças de celulose. Em 2007, o porto obteve recorde no embarque de celulose: foram embarcadas cerca de 4,6 milhões toneladas de celulose, volume 7% maior que em 2006, que foi de 4,3 milhões de toneladas.
A Aracruz Celulose anunciou em outubro de 2007 a expansão do Portocel. O início das obras está previsto para 2010, e exigirá investimentos de R$ 439 milhões. Serão quatro novos berços de atracação, com capacidade para receber navios com até 244 metros de comprimento e 15 metros de calado.
Os navios que atracam no Portocel hoje têm capacidade para 40 mil toneladas, e os que atracarão em Portocel II terão capacidade para até 70 mil toneladas. O Portocel embarca celulose produzida pela Aracruz, Cenibra, Veracel e Suzano.
A Aracruz Celulose anuncia que a capacidade de embarque do Portocel será três vezes maior até 2026: passará para 17 milhões de toneladas/ano. O projeto do novo porto, na área chamada de Portocel II, já foi mostrado ao governador Paulo Hartung pelo presidente da Aracruz Celulose, Carlos Augusto Lira Aguiar. Além de celulose, o terminal a ser construído movimentará outras cargas, como granéis líquidos (etanol, por exemplo) e rochas ornamentais.
(Por Ubervalter Coimbra
, Século Diário, 04/07/2008)