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desmatamento da amazônia inpe carlos minc
2008-07-04

Um novo estudo sobre desmatamento em todo mundo revelou que 27,2 milhões de hectares de florestas tropicais úmidas do planeta foram derrubados entre 2000 e 2005, o que representa uma redução de 2,36% na cobertura total de florestas existente nos anos do levantamento. A maior parcela da devastação vem do Brasil, responsável por 47,8% do desmatamento global, sustenta o estudo realizado por pesquisadores de várias universidades e instituições americanas e publicado na última terça-feira na revista científica Proccedings of the National Academy of Sciences.

A participação do Brasil no período é quase quatro vezes maior do que a do segundo colocado, a Indonésia, que responde por 12,8% do total de florestas derrubadas. Mesmo sendo um país onde a indústria madeireira é considerada a mais predatória do mundo, a Indonésia também ficou em segundo lugar na taxa anual de desmatamento, com 7 mil km² por ano, contra os 26 mil km²/ano amargados por nós.

Em um país como o Brasil, em que o monitoramento do desmatamento não é novidade, os dados podem parecer reiterações do que muito já foi dito por aqui. No entanto, o mérito do estudo está no fato de ser um dos primeiros a estipular a área desmatada do bioma no mundo todo. “O estudo não impressiona muito pelos dados divulgados sobre o Brasil, porque confirma outros estudos que todo mundo já sabe. Ele impressiona no sentido de dar dados integrados do desmatamento no mundo todo”, diz Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Este cruzamento de informações mostrou que a maior parte da perda das florestas tropicais ocorre em um pequeno número de países. Pelo documento, cerca de 55% do desmatamento concentra-se em apenas 6% do bioma tropical, o que configura estas regiões como “hotspots da devastação”, especialmente o Brasil e a Indonésia, onde as taxas de perda de floresta – 3,6% e 3,4% entre 2000 e 2005, respectivamente – são muito superiores às taxas de desmatamento regional, que ficaram em 1,2% para o resto da América Latina e 2,7% para o resto da Ásia.

Apesar da grande parcela de responsabilidade do Sudeste Asiático na derrubada das árvores – onde há forte pressão da cultura de palmeiras para a fabricação de óleo vegetal, segundo o estudo– é na América Latina que se concentra a maior parte do problema. “Mais de três quintos da perda das florestas ocorre na América Latina e cerca de um terço na Ásia [...] Além do Arco do Desmatamento no Brasil, os hotspots latino americanos incluem o norte da Guatemala, leste da Bolívia e leste do Paraguai”, diz o documento. Na contabilidade geral, a África contribuiu com 5,4% da perda estimada da cobertura de florestas tropicais úmidas, reflexo da ausência de agro-indústrias nas regiões das matas africanas.

“Você pode não ter os recursos para monitorar todo lugar com a mesma intensidade e a idéia de hotspot pode ajudar a priorizar o monitoramento. Hotspots podem ser estudados com mais freqüência e com melhores resoluções espaciais. Nosso estudo mostra que utilizando estas amostras, pode-se ter uma estimativa acurada, sem muito trabalho, da escala da modificação do bioma”, explica o coordenador do estudo Matthew Hansen, do Centro de Excelência em Ciência de Informação Geográfica da Universidade Estadual de Dakota do Sul.

Metodologias diferentes
As novas estimativas diferem significativamente das feitas pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), em seu relatório de Avaliação dos Recursos Florestais (FRA), publicado em 2005. Isso porque o relatório sugere uma distribuição mais ampla do desmatamento, incluindo perdas substancialmente maiores na floresta tropical africana e na Indonésia.

Esta dissonância, segundo os pesquisadores, se deve aos diferentes instrumentos de captação de dados usados nos dois estudos: enquanto os dados da FAO são, em grande medida, baseados em relatórios divulgados pelos países, as novas estimativas foram produzidas após análise de uma combinação de dados dos sistemas Modis e Lansat de imagens por satélite. Em vez de olhar separadamente cada imagem, o grupo pegou uma amostra limitada de imagens e extrapolou o desmatamento para regiões vizinhas, dando, assim, uma abordagem estatística às informações.

Apesar das diferenças entre os dois trabalhos, o grupo de pesquisadores aponta um dado em comum: Brasil e Indonésia são os países que apresentam as taxas mais elevadas de mudança na cobertura vegetal do bioma. “Os nossos resultados diferem quanto à relativa magnitude da mudança. Para o relatório da FRA, a mudança na área florestal do Brasil e da Indonésia, de 2000 a 2005, foi igual a 3,10 e 1,87 milhões de hectares por ano, respectivamente. Nossas estimativas de desmatamento das florestas para os dois países são de 2,6 e 0,7 milhões de ha/ano, respectivamente”, diz o estudo.

“Eu penso que a Indonésia foi o líder do desmatamento dos anos 1990, mas lá as coisas diminuíram de ritmo de acordo com nossa análise. Então, embora o país seja ainda um hotspot, ele não é, em termos absolutos ou em porcentagem, o líder do desmatamento. O Brasil é o líder”, diz Hansen, direto ao ponto. E continua. “Existe mais floresta no Brasil, então quase por definição o país será, em termos absolutos, o líder. No entanto o percentual de mudança (no uso da terra) do Brasil entre os líderes é notável. O país tem muitos atributos que facilitam o desmatamento: um enorme e acessível estoque de recursos florestais, integração de mercados, investimentos e infra-estrutura apropriados, além de facilitação e estabilidade política”. 

Repercussão
Com a conclusão de que o desflorestamento está cada vez mais concentrado geograficamente e impulsionado pelas atividades agro-industriais – na pesquisa os motivos para a perda das florestas brasileiras não é apontado de forma específica -, o que o grupo de pesquisadores espera é que os países realizem esforços voltados para a conservação. Segundo o documento, a idéia é expandir e aprimorar o estudo para que possa fornecer dados aos protocolos de monitoramento global que estão sendo criados.

Apesar da boa intenção, as informações do estudo americano não devem ser usadas pelo Brasil. Isso porque, segundo Paulo Moutinho, do Imazon, o país possui instrumentos muito mais precisos de monitoramento da perda de florestas. “O Brasil está extremamente bem em relação ao monitoramento, está muito bem aparelhado. O INPE faz hoje um trabalho mais preciso do que este feito por amostragem”, defende.

Segundo Moutinho, apesar do mal desempenho do Brasil no estudo, os dados também não devem ter impacto nas esferas de tomada de decisões do país. “[Os dados] Já eram de conhecimento de muitos e meio que um senso comum. Não precisaríamos do estudo para saber desse desempenho”. O mérito do trabalho, reforça o pesquisador, está na disponibilização de dados globais, que permitem a visualização e análise abrangente do problema e mostram que o ônus da derrubada das matas deve ser assumido por vários países, não só por aqueles diretamente envolvidos no problema.

Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, os dados apontados no estudo são “verdadeiros” e motivo de embaraço para o país. “É vergonhoso para o Brasil, queremos que seja uma página virada”, disse, em entrevista para o jornal Folha de São Paulo. No entanto, Minc também salientou que a ex-ministra Marina Silva conseguiu reduzir a destruição ambiental no período não analisado pelos pesquisadores – entre 2005 e 2007.

Entre 2005 e 2007, é verdade, a devastação caiu, e não foi pouco – 60%. Este ano, o INPE já calcula que um novo aumento deve ocorrer. Como se sabe até abril, o desmatamento crescia intensamente em muitas regiões da Amazônia brasileira. É preciso cuidar para que esse sobe e desce do desmatamento não termine em empate. Caso contrário, a taça do mundo - da nação mais devastadora – continuará nossa.

Leia o estudo Humid tropical forest clearing from 2000 to 2005, by Hansen et al.

Leia entrevista completa com o coordenador do estudo, Matthew Hansen, do Centro de Excelência em Ciência de Informação Geográfica da Universidade Estadual de Dakota do Sul.

(Por Cristiane Prizibisczki*, OEco, 03/07/2008)
*Colaborou Gustavo Faleiros.


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